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ELIANE CANTANHÊDE
A bazuca
BRASÍLIA - Mal enterrou a CPI da corrupção e lá vai o governo ter que
enterrá-la mais uma vez. Com os custos de sempre. A nova lenha na fogueira desta ou de uma nova CPI é a
denúncia da revista "Veja" de que o
governo não deu o equivalente a R$ 1
bilhão ao nosso já conhecido Salvatore Cacciola para evitar um "risco
sistêmico", mas para evitar uma
"bazuca".
"Bazuca" é como Cacciola teria definido um conjunto de fitas gravadas
mostrando que o então presidente do
Banco Central, Chico Lopes, vendia
informações privilegiadas a peso de
ouro à época da desvalorização cambial. O governo cedeu à chantagem.
Demitiu Lopes inventando desculpas
esfarrapadas e pagou a Cacciola.
Se a história se confirmar, vai comprovar o seguinte:
1) O Planalto (incluindo FHC e o
então chefe da Casa Civil, Clovis
Carvalho) tinha duas opções. Escancarar tudo e mandar prender Lopes,
por corrupção, e Cacciola, por extorsão. Ou cair na chantagem e usar "o
meu, o seu e o nosso dinheirinho" para calar Cacciola e jogar tudo embaixo do tapete. Optou pela segunda.
2) Tudo o que é mal explicado fica
no ar, rondando, rondando, e um
dia cai na cabeça de quem tinha a
obrigação de explicar e tomar providências. A covardia de hoje multiplica escândalos por mil amanhã.
3) Confirmada ou não, a história
chega num momento que já era dramático para FHC. Com crise política,
instabilidade na economia e sobretaxa mais ameaça de corte de luz na
casa dos cidadãos.
4) ACM deve estar acendendo velas
para todos os seus orixás. Depois das
denúncias contra Jader Barbalho, da
megaoperação contra a CPI e do racionamento de energia, essa é mais
uma a empurrar o seu escândalo
particular para segundo plano. Pelo
menos na imprensa.
Ah. E um detalhe: a denúncia da
"Veja" é só no caso Marka. A do FonteCindam é apenas uma questão de
tempo. Pedro Malan diz que só fala
dez anos depois de morto. Mas a verdade não espera tanto.
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