São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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ELIANE CANTANHÊDE

A bazuca

BRASÍLIA - Mal enterrou a CPI da corrupção e lá vai o governo ter que enterrá-la mais uma vez. Com os custos de sempre. A nova lenha na fogueira desta ou de uma nova CPI é a denúncia da revista "Veja" de que o governo não deu o equivalente a R$ 1 bilhão ao nosso já conhecido Salvatore Cacciola para evitar um "risco sistêmico", mas para evitar uma "bazuca".
"Bazuca" é como Cacciola teria definido um conjunto de fitas gravadas mostrando que o então presidente do Banco Central, Chico Lopes, vendia informações privilegiadas a peso de ouro à época da desvalorização cambial. O governo cedeu à chantagem. Demitiu Lopes inventando desculpas esfarrapadas e pagou a Cacciola.
Se a história se confirmar, vai comprovar o seguinte:
1) O Planalto (incluindo FHC e o então chefe da Casa Civil, Clovis Carvalho) tinha duas opções. Escancarar tudo e mandar prender Lopes, por corrupção, e Cacciola, por extorsão. Ou cair na chantagem e usar "o meu, o seu e o nosso dinheirinho" para calar Cacciola e jogar tudo embaixo do tapete. Optou pela segunda.
2) Tudo o que é mal explicado fica no ar, rondando, rondando, e um dia cai na cabeça de quem tinha a obrigação de explicar e tomar providências. A covardia de hoje multiplica escândalos por mil amanhã.
3) Confirmada ou não, a história chega num momento que já era dramático para FHC. Com crise política, instabilidade na economia e sobretaxa mais ameaça de corte de luz na casa dos cidadãos.
4) ACM deve estar acendendo velas para todos os seus orixás. Depois das denúncias contra Jader Barbalho, da megaoperação contra a CPI e do racionamento de energia, essa é mais uma a empurrar o seu escândalo particular para segundo plano. Pelo menos na imprensa.
Ah. E um detalhe: a denúncia da "Veja" é só no caso Marka. A do FonteCindam é apenas uma questão de tempo. Pedro Malan diz que só fala dez anos depois de morto. Mas a verdade não espera tanto.



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