São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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CLÓVIS ROSSI

A mão é nossa, o erro é dele

SÃO PAULO - É falsa a informação de que não haverá apagão em junho. Haverá, sim, mas, em vez de ser organizado pelo governo, será conduzido pelos próprios consumidores.
Se aumentar as tarifas (mesmo para quem cumpra as metas de redução do consumo), se sobretaxar determinados níveis de consumo, se ameaçar com o corte da energia quem não ficar restrito às cotas determinadas pelo governo, se tudo isso não é apagão, o que seria então um apagão?
O auto-apagão tem uma vantagem: serve como um teste para verificar se a sociedade é mais competente do que o governo para gerir a eletricidade. Não deve ser difícil, dada a incompetência que o governo demonstrou nessa história toda.
Agora, o governo alia à incompetência um toque de ilegalidade. Sei que haverá pareceres de juristas dizendo que é ilegal cortar a luz de quem não ficar dentro dos limites de consumo, como haverá pareceres garantindo a mais absoluta legalidade do corte. É sempre assim.
Mas o mais elementar sentido comum manda dizer que ninguém está autorizado a privar quem quer que seja de um serviço que o consumidor paga em dia e dentro das normas fixadas pelo fornecedor no momento em que o serviço foi contratado.
A transferência da gestão do apagão para o consumidor não pode fazer esquecer que o governo é o grande e único responsável por ele. Houve, é verdade, má vontade de são Pedro, que não fez chover o necessário, mas a imprevidência, o descaso e o desleixo têm, somados, culpa imensamente maior.
Na hora de apagar a luz, portanto, lembre-se que a sua mão é mera operadora de um erro alheio, um enorme erro do governo.
PS - A idéia inicial deste texto pertence a um dos meus muitos e amados chefes, Vinicius Torres Freire, editor de Dinheiro e titular deste espaço às segundas-feiras.



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