São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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EM CASA

Há alguns dias se organizou em Salvador um evento para que pessoas de destaque na mídia -artistas, esportistas, escritores etc.- se solidarizassem com o senador Antonio Carlos Magalhães, ameaçado de perder o mandato por ter participado, no ano passado, do lamentável episódio da violação do painel eletrônico do Senado. O evento procurava mostrar que ACM ainda se mantinha forte no seu reduto.
Pois alguns fatos recentes fazem pensar que talvez a força de ACM esteja sendo minada também no Estado da Bahia. E não se trata de mais defecções na base carlista, como o movimento realizado pelo deputado federal Benito Gama, que trocou, em fevereiro, o PFL de ACM pelo PMDB. São manifestações de rua contra o político muitas vezes tratado como o todo-poderoso da Bahia.
Ao longo da semana que passou, elas ocorreram quase todos os dias e sempre contando com um número crescente de participantes. Falou-se em 20 mil pessoas presentes no ato de quinta-feira, julgada a maior passeata de protesto ocorrida na cidade desde 1992, no contexto do processo que culminou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Como no "Fora, Collor", a presença de estudantes protestando contra ACM foi maciça.
Decerto ajudou a criar um clima pró-manifestações a maneira violenta como a Polícia Militar, comandada pelo governador César Borges -ele mesmo um afilhado político de ACM-, atuou no protesto de quarta-feira passada. Para reprimir, e duramente, a manifestação, a PM baiana invadiu e ocupou um dos campi da Universidade Federal da Bahia; desobedeceu uma ordem da Justiça para desocupar o local. Mas parece inegável que a oposição interna ao senador perdeu a timidez, ou o medo, e decidiu redobrar esforços pela cassação de seu mandato.
Na semana que entra, o destino do senador Antonio Carlos Magalhães deve passar por um momento decisivo. Está prevista para a próxima quarta-feira a votação, no Conselho de Ética, do pedido de abertura do processo de cassação de seu mandato, bem como o do ex-líder do governo José Roberto Arruda.
Nesse contexto, as exibições de divisão na própria base de ACM constituem um fato importante a pressionar contra qualquer tipo de acordo que porventura contemple o abrandamento de sua punição. Além disso, esse aumento da voz oposicionista, num Estado cujas instituições ainda são permeadas pela liderança pessoal de ACM, pode ser um aviso de que o velho modo de comandar do senador não é mais tão hegemonicamente tolerado.



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