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EM CASA
Há alguns dias se organizou
em Salvador um evento para
que pessoas de destaque na mídia
-artistas, esportistas, escritores
etc.- se solidarizassem com o senador Antonio Carlos Magalhães,
ameaçado de perder o mandato por
ter participado, no ano passado, do
lamentável episódio da violação do
painel eletrônico do Senado. O evento procurava mostrar que ACM ainda
se mantinha forte no seu reduto.
Pois alguns fatos recentes fazem
pensar que talvez a força de ACM esteja sendo minada também no Estado da Bahia. E não se trata de mais
defecções na base carlista, como o
movimento realizado pelo deputado
federal Benito Gama, que trocou, em
fevereiro, o PFL de ACM pelo PMDB.
São manifestações de rua contra o
político muitas vezes tratado como o
todo-poderoso da Bahia.
Ao longo da semana que passou,
elas ocorreram quase todos os dias e
sempre contando com um número
crescente de participantes. Falou-se
em 20 mil pessoas presentes no ato
de quinta-feira, julgada a maior passeata de protesto ocorrida na cidade
desde 1992, no contexto do processo
que culminou no impeachment do
ex-presidente Fernando Collor de
Mello. Como no "Fora, Collor", a
presença de estudantes protestando
contra ACM foi maciça.
Decerto ajudou a criar um clima
pró-manifestações a maneira violenta como a Polícia Militar, comandada
pelo governador César Borges -ele
mesmo um afilhado político de
ACM-, atuou no protesto de quarta-feira passada. Para reprimir, e duramente, a manifestação, a PM baiana invadiu e ocupou um dos campi
da Universidade Federal da Bahia;
desobedeceu uma ordem da Justiça
para desocupar o local. Mas parece
inegável que a oposição interna ao
senador perdeu a timidez, ou o medo, e decidiu redobrar esforços pela
cassação de seu mandato.
Na semana que entra, o destino do
senador Antonio Carlos Magalhães
deve passar por um momento decisivo. Está prevista para a próxima
quarta-feira a votação, no Conselho
de Ética, do pedido de abertura do
processo de cassação de seu mandato, bem como o do ex-líder do governo José Roberto Arruda.
Nesse contexto, as exibições de divisão na própria base de ACM constituem um fato importante a pressionar contra qualquer tipo de acordo
que porventura contemple o abrandamento de sua punição. Além disso, esse aumento da voz oposicionista, num Estado cujas instituições ainda são permeadas pela liderança pessoal de ACM, pode ser um aviso de
que o velho modo de comandar do
senador não é mais tão hegemonicamente tolerado.
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