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PIORA SEM PRAZO
Está em curso uma contração
dos horizontes com que empresários, consumidores e trabalhadores formam suas expectativas, fazem
seus planos e tomam decisões. A tal
ponto se acumulam fatores de incerteza, na economia e na política, que a
piora inevitável já nem parece passível de ser dimensionada em termos
de curto, médio e longo prazo.
A crise energética é o principal elemento a precipitar o mau humor.
Mas ela aflora num momento em
que já pioravam os indicadores de inflação, em que já cursavam trajetória
de alta as taxas de juros, em que as
pressões sobre o câmbio se intensificavam e em que o rumo da economia
mundial se tornava mais nebuloso.
No plano econômico internacional, aliás, as notícias agora são menos assustadoras, já que os bancos
centrais dos EUA e da União Européia vêm reduzindo seus juros. O
problema dessa notícia, em si mesma boa, é que ninguém sabe ainda se
as quedas nas taxas de juros servirão
para reativar os mercados mundiais
ou se elas terão no máximo o dom de
evitar uma deterioração ainda mais
aguda e rápida nos mercados monetários e financeiros do mundo.
No "front" econômico doméstico,
o que se configura é um intenso choque de custos. O racionamento de
energia elétrica, no entanto, não terá
implicações apenas temporárias.
Também nesse caso é ainda cedo
para estimar quanto custarão ou por
quanto tempo ocorrerão reajustes de
tarifas que reflitam o descompasso
entre demanda e oferta de energia.
Entretanto, como em outros casos
de desequilíbrio estrutural, o choque
através de reajustes de preços e da
contenção da demanda é parte da
história, talvez a menos significativa.
Mesmo que as tarifas sofram reajustes expressivos nos próximos meses e anos, o que é muito provável,
prolongando o choque de custos e
impedindo o crescimento da economia, o ajuste não terá ocorrido até
que surjam os investimentos, de longa maturação, necessários para que a
oferta de energia se amplie.
Neste momento, não há clareza sobre como, em que intensidade ou
quando serão realizados tais investimentos. Nesse quadro ficam mais
restritas as opções que uma empresa
tem para definir como cortar custos e
em que medida esse ajuste afetará o
nível de emprego. Sem horizonte,
tornam-se mais prováveis as demissões em maior número.
Há outros custos que contribuem
para o choque atual. A Prefeitura de
São Paulo, por exemplo, já anunciou
um reajuste de tarifas de transporte
que terá impacto nos orçamentos
dos habitantes do maior pólo econômico do país. A Fipe, avaliando a repercussão inflacionária desse reajuste de tarifas, já situa sua previsão de
inflação anual na casa dos 5%.
Há outros fatores de impacto sobre
os custos que mal começaram a ser
sentidos. A forte pressão sobre a taxa
de câmbio das últimas semanas, por
exemplo, poderá vir a afetar inúmeros setores da economia brasileira.
O Banco Central, diante desse choque de custos, muito provavelmente
optará por conter a demanda, ou seja, voltará a elevar as taxas de juros
para esfriar ainda mais a economia e,
assim, impedir altas mais expressivas dos índices de inflação.
Levando em conta a natureza dos
desequilíbrios em curso e a direção
mais provável da política econômica,
torna-se praticamente inevitável admitir um cenário que há pouco parecia inimaginável: uma recessão. Isso
seria algo especialmente grave por
dois motivos. Primeiro porque nada
autoriza qualquer previsão quanto a
sua duração. Segundo porque, ocorrendo no processo de aquecimento
da corrida eleitoral rumo à sucessão
de FHC, essa possível recessão deve
tornar ainda mais instável o já conturbado cenário político.
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