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CLÓVIS ROSSI
A crise é esta, não aquela
SÃO PAULO - Acho que os especialistas se enganaram de crise. Crise é o que ocorre agora, no mundo
todo, e não aquela baita confusão
que foi o caso das "subprime".
Crise é, por exemplo, o fato de
que a inflação na zona do euro atingiu em maio o mais alto nível em 16
anos. Detalhe: desde que o euro foi
lançado, ainda como moeda escritural, em 1999, não havia sido registrado nada maior que os 3,7% no
ano que terminou em maio.
Agora não dá nem para pensar
em descolamento, esse interessante, mas acadêmico, debate sobre a
possibilidade de os países emergentes não serem afetados pela crise
norte-americana das "subprime".
Não, a inflação é um fenômeno
mundial sem precedentes recentes,
com efeitos diretos e imediatos na
vida real, em vez de, como a outra
crise, afetar principalmente os
apostadores dos mercados financeiro e imobiliário.
Na semana passada, os camionheiros pararam meia Espanha,
com severos efeitos no abastecimento de gêneros essenciais. Esta
semana começa com os camionheiros bloqueando estradas francesas.
Mesmo o Reino Unido, que era
tratado até bem recentemente como o mais sadio dos países europeus (por seguir basicamente o modelo norte-americano, em vez do
supostamente esclerosado sistema
da Europa continental), conhece
agora um momento de amargura
sem paralelo recente. A CBI (Confederação das Indústrias Britânicas) acaba de avaliar que 2008 será
o ano mais duro desde 1992, devido
aos crescentes aumentos de preços
de alimentação e petróleo.
Já há quem veja no horizonte o
fantasma da estagflação nos Estados Unidos -paralisia econômica
com preços disparados. No Brasil, o
"Jornal Nacional", na semana passada, ressuscitou o fantasma das
maquininhas de remarcar preços
nos supermercados.
Antigamente, ainda havia quem
pensasse ter a solução.
crossi@uol.com.br
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