São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Cada telhado, uma pequena usina

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO

A energia fotovoltaica resulta da transformação direta da luz em energia elétrica por meio de células feitas geralmente à base de silício. A fim de obter um potencial suficiente, as células devem estar associadas entre si para constituírem um painel solar. Como os painéis fotovoltaicos produzem correntes contínuas (como as pilhas), é necessário convertê-las, com a ajuda de um conversor, em corrente alternada (comparável àquela que alimenta os aparelhos de televisão, os computadores, as geladeiras etc.).
Essa tecnologia fotovoltaica, desenvolvida para os satélites artificiais, tornou-se uma solução eficaz para alimentar com eletricidade as residências, em particular os sítios isolados. Tem uma grande utilidade em diversas aplicações, como nas telecomunicações, no bombeamento de água, na iluminação pública etc.
Há alguns anos, certos países da Europa empenharam-se em políticas visando acelerar o acesso à rentabilidade dos sistemas fotovoltaicos. Assim, por exemplo, Friburgo, na Alemanha, já possui cerca de 10 mil telhados, todos com painéis solares. Não são painéis de aquecimento, são painéis fotovoltaicos. O governo alemão está programando chegar a 100 mil telhados, pois quer que cada telhado funcione como uma usina elétrica.
Por estar produzindo, pode oferecer financiamento com juros baixos, e os credores têm quatro anos para pagar sua célula fotovoltaica, cuja garantia é de 25 anos. Depois dos quatro anos, só há lucro, não há mais nada a pagar. Uma casa de dois quartos, com um telhado médio, por exemplo, gera mensalmente DM 400 de energia solar. O gasto mensal da residência é de DM 100. Os DM 300 que sobram são vendidos para a rede. As pessoas estão mais do que felizes, pois seu telhado está rendendo dinheiro.


A tecnologia fotovoltaica tornou-se uma solução eficaz para alimentar com eletricidade as residências


É essa renda extra que vem convencendo cada vez mais pessoas a transformarem seus telhados numa usina solar. Isso é possível porque o governo alemão acaba de obrigar as companhias de energia a comprarem, por lei, durante os próximos 20 anos, toda a energia solar produzida, pagando um preço três vezes maior do que aquele que cobra dos seus clientes. Há alguns anos já existe o "Programa dos 100 mil telhados", que dá crédito barato a todos que querem investir em energia solar.
Se deu certo em Friburgo, na Alemanha, por que não dará no Brasil, país do sol?
A Universidade de Stuttgart desenvolveu um novo tipo de célula solar, 50 vezes mais fina que um fio de cabelo. Os estudantes usam as células flexíveis em chapéus e paletós, empregando-os para recarregar seus celulares. Já estamos, portanto, perto de uma revolução da energia.
Há um prédio que gira de acordo com a posição do sol. No verão, quando o sol é muito intenso, ele vira para o lado oposto. É uma verdadeira arquitetura solar. No bairro onde as casas têm painéis solares, as cores são muito vivas. É uma beleza. Já existem 130 casas assim. Há um estádio de futebol cuja cobertura é toda feita com painéis solares. Eles captam a energia e a conservam, a fim de usá-la à noite. Há, também na Alemanha, um barco solar. A própria igreja já tem seu telhado com energia fotovoltaica.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, 67, astrofísico, doutor pela Universidade de Paris, é pesquisador titular do Museu de Astronomia e Ciências Afins (RJ). É autor, entre outros livros, de "Sol e a Energia do Terceiro Milênio".

www.ronaldomourao.com



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