![]() São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Senhores senadores
JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI
Por outro lado, não é real o argumento de que o faturamento dos hospitais públicos com a venda de serviços é indispensável para o funcionamento adequado dos mesmos. O exemplo do Hospital das Clínicas de São Paulo, o maior e melhor hospital universitário da América Latina, é ilustrativo, pois, no quinto ano de funcionamento dessa prática (1997), o faturamento da segunda porta para o hospital correspondeu a apenas 1,2% dos recursos públicos (orçamento mais o faturamento do SUS), e até hoje não chega a uma quantia significativa. Os exemplos do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, e do Sarah, em Brasília, mostram que é possível desenvolver padrões de excelência sem se curvar a essa distorção. Existem alternativas legais para aumentar o orçamento desses hospitais atendendo a todos os usuários de forma igualitária. Refiro-me à utilização integral dos recursos do faturamento do SUS (pago com 73% de acréscimo) para o funcionamento do hospital, sem outras destinações por parte das fundações que os recebem; à aplicação da lei federal 9.656, de 3/6/98, para o ressarcimento das despesas com o atendimento dos usuários de planos de saúde -que equivalem a cerca de 15% dos pacientes internados como se fossem do SUS e atendidos pela mesma porta-; ou ainda ao término da prática imposta e inconstitucional do "teto" (limite de faturamento do SUS independentemente do número de atendimentos). São formas éticas de aumentar verbas em quantidade várias vezes superior à gerada pela segunda porta. Faço, pois, um apelo aos senhores senadores, para que rediscutam a questão, em nome dos 70% de brasileiros que não têm capacidade de pressão, que serão mais uma vez enganados por argumentos falaciosos e propositalmente complexos, apesar de terem pacífica, porém enfaticamente, pedido mudança com seu voto. Aliás, está exatamente nas políticas públicas totalmente reformuladas a possibilidade do novo governo de atender as elevadas expectativas do sofrido e esperançoso povo brasileiro. Não devemos restringir essa possibilidade poucos dias antes de ele começar e demonstrar a ousadia de fazer a diferença. Sei que mexo em vespeiro, mas socorro-me nas palavras de Sócrates durante seu julgamento, quando seus amigos o aconselhavam a ser politicamente correto: "Pode alguém perguntar: mas não será capaz, ó Sócrates, de nos deixar e viver calado e quieto?". E respondia ele mesmo: "A vida sem exame não é vida digna de um ser humano". José Aristodemo Pinotti, 67, deputado federal eleito pelo PMDB-SP, é professor titular e chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP. Foi deputado federal (1994-98), secretário da Educação (1986-87) e da Saúde (1987-91) do Estado de São Paulo, secretário da saúde do município de São Paulo (2000), reitor da Unicamp (1982-1986) e presidente da Federação Internacional de Ginecologia (1986-1990). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Ronaldo Rogério de Freitas Mourão: Cada telhado, uma pequena usina Índice |
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