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ENTRAVES À TECNOLOGIA
Há duas ordens de problemas
que afligem aqueles que desejam a instalação de uma política tecnológica que possa, de fato, ajudar a
livrar o Brasil do fardo do atraso e da
dependência externa excessiva nesse
setor. Há os obstáculos propriamente organizacionais da política nacional para desenvolvimento tecnológico e há os óbices orçamentários.
Em artigo publicado na sexta-feira
nesta Folha, o físico Rogério Cezar
de Cerqueira Leite -professor da
Unicamp e membro do conselho
editorial deste jornal- tocou, basicamente, no primeiro aspecto. Da
forma como vem sendo implantada
a política de fomento à inovação tecnológica no Brasil, corremos o risco,
de acordo com o professor, de desperdiçar recursos públicos escassos.
Concorrendo para esse perigo estariam conceitos atrasados -como o
de que não se pode estimular, com
dinheiro público, o desenvolvimento
tecnológico no setor privado- ou
simplesmente equivocados -como
a idéia de que recursos para ciência e
tecnologia devem ter distribuição
equilibrada regionalmente.
Um ponto sensível da conjuntura
-a proposta que corre de separar,
no governo, ciência, tecnologia e
universidades- também é questionado por Cerqueira Leite, que propugna pela integração dessas áreas à
política industrial.
Agregue-se a esse problema de
concepção e de gestão o fato de que,
até hoje, não se garantiu um aspecto
fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico no país: a
continuidade dos financiamentos
públicos. Até mesmo os propalados
fundos setoriais -uma das boas
idéias gestadas nos anos FHC- não
têm escapado às contingências fiscais. Na Câmara, corre projeto de lei
para desvincular, permanentemente,
até 50% da parcela dos recursos provenientes dos royalties de petróleo
que a lei 9.478, de 1997, obriga que
seja transferida ao Ministério da
Ciência e Tecnologia e aplicada na
pesquisa e no desenvolvimento tecnológico da indústria do petróleo.
Sem autonomia orçamentária e eficiência na gestão, é ilusório cogitar
que o Brasil, um dia, passará ao grupo de países reconhecidos como potências tecnológicas, aspecto-chave
para o desenvolvimento.
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