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A integração total dos perueiros ao transporte público oficial é viável?
SIM
Para o bem dos passageiros
JOSÉ CÉLIO DOS SANTOS
Glorioso Aurélio que, em sua obra,
nos ensina que integrar é "1 - Tornar
inteiro: completar, inteirar, integralizar". Mais do que debatermos ou nos
estendermos em infindáveis justificativas, vejamos o que diz a população.
Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha e publicada na Folha, 37% dos
entrevistados consideram o sistema de
lotação ótimo ou bom, e, entre aqueles
que afirmam utilizar lotações sempre,
a aprovação chega a 75%. Lamentavelmente, nessa mesma pesquisa, o sistema de ônibus teve um índice de 28%
de entrevistados que o consideram
ótimo ou bom. Triste realidade. No
mesmo período utilizado como parâmetro na pesquisa, os índices de aprovação do metrô e dos trens tiveram
um crescimento expressivo.
Há que destacar que a pesquisa foi
realizada no período de efervescente
caça dos perueiros pelo poder municipal. Seria infantil e leviano imaginar
que, com toda a pressão exercida sobre esse sistema, não ocorreria uma
degradação nos serviços prestados pela lotação. Ainda assim, ela perde em
aceitação e aprovação apenas para o
metrô.
Diante dessas constatações, é imperioso afirmar que é possível a integração, porém falta ao poder público tratar-se da miopia que o acomete na leitura do que é o interesse público. Não
adianta preocupar-se em proteger um
sistema caduco e com paquidérmicos
vícios de operação. Os condutores de
lotação são sérios e querem trabalhar
sob o manto da lei -legalidade que
tem sido negada pelo poder público.
É chegado o momento de entendermos que o uso da expressão "clandestino" está equivocado. Não existe clandestino, existem condutores de lotação que foram impedidos de legalizar-se. Existem no seio dos condutores de
lotação maus profissionais, mas certamente são minoria. Não teríamos obtido maioria se assim não fosse.
Existem trabalhos sérios e lúcidos
em andamento sobre o tema, como,
por exemplo, o projeto de lei do deputado federal Lincoln Portela que dispõe sobre a instituição e a delegação
do transporte coletivo de passageiros
em veículos cuja lotação varie de oito a
16 lugares. Elaborado em maio de 98,
esse projeto apresenta a antevisão dessa desastrosa sequência de ações que
estamos presenciando. Vejamos parte
de seu texto. "Como providência padrão, administrações públicas contrárias à atuação do transporte clandestino têm procurado dar seguimento a
políticas de controle policial, as quais,
entretanto, vêm se mostrando infrutíferas e, pior, catalisadoras de sérios
conflitos sociais."
O projeto de lei apresenta o trato do
tema com uma lucidez e imparcialidade que nos conduzem à seguinte reflexão: por que são impostos regras e limites draconianos sobre uma categoria que obtém elevados índices de
aprovação do público e se trabalha ardilosamente pela sua extinção, privilegiando uma outra categoria que anacronicamente teima em não se alinhar
em prol do interesse público?
É do entendimento do Sindlotação
que, partindo da análise e do entendimento imparciais da matriz de transportes coletivos existentes em São
Paulo, escutando a população, trazendo os empresários de ônibus para a
realidade da compreensão do que é
sua função social, será possível tornar
inteiro nosso sistema de transportes.
O condutor de lotação é um empresário pequeno, empregado de si mesmo, com elevado nível de consciência
da função social do trabalho que desempenha e de seu papel na sociedade.
Desde há muito procuramos no poder
público o caminho para -para o bem
do interesse público- alcançar a legalidade no Estado de Direito. Continuamente, fomos colocados na precariedade do exercício do trabalho.
Nós dizemos sim para a integração,
contamos com o apoio da população e
entendemos que o cerceamento por
parte do poder público ao direito desta
categoria de continuar trabalhando é,
apenas, mais um desserviço prestado
pelas autoridades, mostrando assim o
quão distantes se encontram da realidade de quem sabe, na periferia, que
pode esperar que a perua ou a van vão
passar e, nelas, o passageiro não será
mais um número na catraca, a ser distribuído por um percurso.
Na lotação o passageiro tem nome e
lugar para viajar sentado. O condutor
de lotação não faz greve e sabe o quanto é importante trabalhar bem. A integração é viável, cada meio tem o seu
lugar na matriz de transportes. Tratemo-los de forma equânime, serena e
equilibrada, e todos verão como a integração total dos perueiros ao transporte público oficial é viável.
José Célio dos Santos, 32, é presidente do Sindlotação (sindicato dos proprietários de veículos e profissionais autônomos que trabalham no transporte de
passageiros por meio de lotação no Estado de São
Paulo).
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