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A integração total dos perueiros ao transporte público oficial é viável?
NÃO
Nem uma perua a mais
GETÚLIO HANASHIRO
Os perueiros chamaram a atenção da
população para o problema do transporte de passageiros na cidade de São
Paulo. Muito se fala sobre o assunto,
mas poucos são os que conseguem tratar a questão sem passionalismo. A solução ideal é a implantação de novas linhas de metrô. Mas não há recursos
disponíveis para, no curto prazo, implantar linhas suficientes. Um quilômetro de metrô custa US$ 100 milhões.
Em dez anos a frota de São Paulo dobrou. Hoje são 5 milhões de veículos.
Um carro para cada dois habitantes. O
trânsito tornou-se mais difícil. A média de velocidade dos ônibus hoje é de
apenas 14 km/h. Há dez anos era de 25
km/h. Depois de quase dois anos de
muita negociação, o prefeito Celso Pitta conseguiu com o BNDES US$ 750
milhões para investimento nos corredores de ônibus e nos Veículos Leves
sobre Pneus, VLP (fura-fila). Há muito
os projetos técnicos estavam aprovados, mas o governo federal não liberou
os recursos. Essa demora foi fatal para
a cidade e contribuiu para o aumento
do número de peruas.
O surgimento das peruas e sua popularidade estão associados ao tempo
que os usuários de ônibus gastam para
chegar ao centro da cidade. As peruas
clandestinas, por exemplo, não têm
compromisso com horários, itinerários e nem mesmo com a segurança
dos passageiros. Por isso oferecem viagens mais rápidas. Pelos dados da Associação Nacional de Transportes Públicos, 76% das pessoas escolhem as
peruas para ganhar tempo.
A Secretaria Municipal dos Transportes legalizou, em novembro de
1997, antes de eu assumir o cargo, portanto, 2.700 peruas, por uma lei que foi
considerada posteriormente inconstitucional. As peruas foram legalizadas
por pressão dos perueiros, da opinião
pública e da própria imprensa. A justificativa era o desemprego.
A comunidade técnica é contra esse
tipo de transporte. Muitos dos veículos
utilizados não são adequados, e a proliferação das peruas pode destruir o
sistema formal de transporte. Mesmo
assim, a Secretaria Municipal dos
Transportes, depois de um estudo detalhado, elaborou um projeto para a legalização de 4.042 peruas, que já está
na fase de licitação. Esse não é um número cabalístico. É o que o sistema suporta.
A lógica do sistema é transportar a
maior quantidade de passageiros no
menor espaço de tempo. É por isso que
se fala em rede estrutural de alta capacidade (metrô e ferrovia) e rede estrutural de média capacidade (corredores
de ônibus, fura-fila etc.). O metrô, por
exemplo, transporta 100 mil passageiros por hora. Para apresentar o mesmo
desempenho, só no trecho que hoje é
coberto pelo metrô, precisaríamos de
pelo menos 10 mil peruas.
O projeto da SMT determina que as
peruas vão complementar o sistema,
se encarregando da ligação entre os
bairros mais afastados e as linhas de
ônibus que vão até o centro da cidade.
No entanto, não vamos admitir uma
perua a mais. Entendemos a legalização dessas 4.042 peruas como uma
concessão, em razão de uma situação
excepcional.
O acidente que causou a morte de
quatro pessoas e deixou nove feridos,
os 14 ônibus incendiados, os motoristas sem habilitação, as armas apreendidas, as agressões aos fiscais e principalmente a falta de segurança da maioria
dos veículos já provaram que as peruas, do jeito como estão atuando, são
uma ameaça e de forma nenhuma resolvem os problemas dos passageiros e
da cidade.
Com os incidentes das últimas semanas, as peruas clandestinas deixaram
de ser uma questão de transporte para
se transformar num caso de polícia. Isso a população, que em princípio tinha
simpatia pelos perueiros, já percebeu.
As últimas pesquisas de opinião sobre
os perueiros mostraram que a população repele o desrespeito às leis e a violência.
Getúlio Hanashiro, 56, sociólogo, é secretário Municipal dos Transportes de São Paulo. Ocupou o mesmo
cargo em 1993-94 (administração Maluf) e em 1983-85 (administração Covas). Foi secretário de Estado
dos Negócios Metropolitanos (governo Quércia).
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