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Adoração e interesses
CLÓVIS ROSSI
Bancoc - "Assumir que, pela liberalização, desregulamentação, privatização e preços corretos, os mercados privados alocariam os recursos eficientemente para o crescimento (...) mostrou-se inadequado para as inseguranças e desafios da globalização."
De quem é a frase acima? De Maria
da Conceição Tavares? Paulo Nogueira Batista Júnior? Algum economista
do PT? Ou mesmo Delfim Netto?
Não. É de Gordon Brown, ministro
britânico das Finanças e, como tal, um
dos responsáveis pela Terceira Via que
tanto seduz o presidente Fernando
Henrique Cardoso.
O embaixador brasileiro Rubens Ricupero anda para cima e para baixo
com uma cópia do discurso de Brown,
para mostrar que está agonizando o
Consenso de Washington, o receituário que prega justamente o que Brown
agora diz ser "inadequado".
Por isso mesmo, Ricupero, ecoando
Brown, sugere a busca de um novo paradigma, o "Paradigma 2000", para o
mundo globalizado.
Cauteloso, o ex-ministro da Fazenda evita críticas à equipe econômica
brasileira, até porque ela inclui gente
que trabalhou com ele.
Mesmo assim, deixa escapar: "Seria
bom que esse debate (sobre o "novo paradigma') refrescasse um pouco o pensamento".
Seria igualmente bom que olhassem
um pouco para a Ásia. Mesmo com toda a crise de 97/98 e com toda a pressão para que escancarassem seus mercados, os países asiáticos vão devagar,
quase parando. Exemplo: na Tailândia, os bancos nacionais dominam
80% do mercado. No Brasil, diz Ricupero, se o Banespa for vendido para
um grupo estrangeiro, a fatia dos nacionais mal chegará aos 50%.
"O problema não é abrir ou não a
economia, mas como fazer isso", diz o
ex-ministro da Fazenda.
Posto de outra forma, a abertura e a
liberalização não são uma questão religiosa, fruto da adoração ao mercado.
Trata-se de dosar bem os interesses, os
nacionais e os externos.
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