São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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Adoração e interesses

CLÓVIS ROSSI

Bancoc - "Assumir que, pela liberalização, desregulamentação, privatização e preços corretos, os mercados privados alocariam os recursos eficientemente para o crescimento (...) mostrou-se inadequado para as inseguranças e desafios da globalização."
De quem é a frase acima? De Maria da Conceição Tavares? Paulo Nogueira Batista Júnior? Algum economista do PT? Ou mesmo Delfim Netto?
Não. É de Gordon Brown, ministro britânico das Finanças e, como tal, um dos responsáveis pela Terceira Via que tanto seduz o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O embaixador brasileiro Rubens Ricupero anda para cima e para baixo com uma cópia do discurso de Brown, para mostrar que está agonizando o Consenso de Washington, o receituário que prega justamente o que Brown agora diz ser "inadequado".
Por isso mesmo, Ricupero, ecoando Brown, sugere a busca de um novo paradigma, o "Paradigma 2000", para o mundo globalizado.
Cauteloso, o ex-ministro da Fazenda evita críticas à equipe econômica brasileira, até porque ela inclui gente que trabalhou com ele.
Mesmo assim, deixa escapar: "Seria bom que esse debate (sobre o "novo paradigma') refrescasse um pouco o pensamento".
Seria igualmente bom que olhassem um pouco para a Ásia. Mesmo com toda a crise de 97/98 e com toda a pressão para que escancarassem seus mercados, os países asiáticos vão devagar, quase parando. Exemplo: na Tailândia, os bancos nacionais dominam 80% do mercado. No Brasil, diz Ricupero, se o Banespa for vendido para um grupo estrangeiro, a fatia dos nacionais mal chegará aos 50%.
"O problema não é abrir ou não a economia, mas como fazer isso", diz o ex-ministro da Fazenda.
Posto de outra forma, a abertura e a liberalização não são uma questão religiosa, fruto da adoração ao mercado. Trata-se de dosar bem os interesses, os nacionais e os externos.



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