São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO

A operação da polícia carioca no complexo da Maré para dar combate a uma suposta organização de presuntivos mercenários angolanos que teoricamente estariam dando instrução militar a putativos traficantes em hipotéticos campos de treinamento vai além de um exercício de imaginação. Não porque encerre algum grau de verdade, mas sim por suas péssimas consequências.
Em termos concretos, a manobra truculenta resultou em maus-tratos e humilhações para o contingente de angolanos que vive nas favelas da Maré e em um incidente diplomático. O Consulado de Angola no Rio de Janeiro agora exige justas desculpas. Mais abstratos, mas não menos importantes são o racismo, a falta de compaixão e o completo desprezo ao Estado de Direito que marcaram a intervenção policial.
Embora tenha sido demonstrado que as suspeitas contra os angolanos eram infundadas, o secretário de Segurança Pública do Rio, Josias Quintal, declarou: "Se não existe hoje o envolvimento comprovado, com certeza absoluta existirá dentro de algum tempo". É assustador e preocupante que a principal autoridade policial carioca pense assim.
A concessão do asilo político é um ato de generosidade e um dos princípios constitucionais que regem a atuação da República Federativa do Brasil (artigo 4�). Em um momento em que a rica e desenvolvida Europa se vê às voltas com os fantasmas da xenofobia, particularmente na Áustria e na Espanha, é também uma excelente oportunidade para o Brasil demonstrar suas virtudes -que, nesse campo, existem- e firmar-se no cenário internacional como nação em que não impera uma das chagas do século, que é a intolerância.


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