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EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO
A operação da polícia carioca no
complexo da Maré para dar combate
a uma suposta organização de presuntivos mercenários angolanos que
teoricamente estariam dando instrução militar a putativos traficantes em
hipotéticos campos de treinamento
vai além de um exercício de imaginação. Não porque encerre algum grau
de verdade, mas sim por suas péssimas consequências.
Em termos concretos, a manobra
truculenta resultou em maus-tratos e
humilhações para o contingente de
angolanos que vive nas favelas da
Maré e em um incidente diplomático.
O Consulado de Angola no Rio de Janeiro agora exige justas desculpas.
Mais abstratos, mas não menos importantes são o racismo, a falta de
compaixão e o completo desprezo ao
Estado de Direito que marcaram a intervenção policial.
Embora tenha sido demonstrado
que as suspeitas contra os angolanos
eram infundadas, o secretário de Segurança Pública do Rio, Josias Quintal, declarou: "Se não existe hoje o envolvimento comprovado, com certeza absoluta existirá dentro de algum
tempo". É assustador e preocupante
que a principal autoridade policial carioca pense assim.
A concessão do asilo político é um
ato de generosidade e um dos princípios constitucionais que regem a
atuação da República Federativa do
Brasil (artigo 4�). Em um momento
em que a rica e desenvolvida Europa
se vê às voltas com os fantasmas da
xenofobia, particularmente na Áustria e na Espanha, é também uma excelente oportunidade para o Brasil
demonstrar suas virtudes -que,
nesse campo, existem- e firmar-se
no cenário internacional como nação
em que não impera uma das chagas
do século, que é a intolerância.
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