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MUITO ALÉM DA FARMÁCIA
As iniciativas do Ministério da Saúde e o debate que têm suscitado revelam que há, por trás de cada remédio
ou fabricante de remédios, bem mais
que uma política de saúde.
Como em outros setores da economia brasileira, o farmacêutico passou por uma exposição maior à concorrência estrangeira. Na saúde assistiu-se também a uma participação
crescente do setor privado.
Mas a nova sequência de denúncias
deixa bem claro que o governo ainda
precisa esforçar-se muito para dotar
o país da regulação e da fiscalização
adequadas.
As soluções nessa área ultrapassam
em muito a competência do Ministério da Saúde. Elas envolvem temas
que dizem respeito às políticas industrial, de comércio exterior, de desenvolvimento tecnológico.
Formular e executar estratégias
nesses vários níveis exigiria uma articulação entre vários órgãos e ministérios que, por enquanto, inexiste.
Aliás, não é correto que os controles governamentais (até mesmo de
preços) sobre a indústria de medicamentos sejam um anacronismo.
O tema é fonte de preocupação
mesmo nos países de maior aderência ao modelo liberal. Os preços de
remédios são mais altos justamente
nos EUA, onde não há controle.
Um economista que se debruçou
sobre a questão, Jeffrey Sachs, alertou
para um tema correlato que em geral
fica na penumbra. Na medida em
que estão se formando gigantescos
conglomerados globais no setor farmacêutico, ganha ainda mais força a
tendência histórica de as pesquisas se
concentrarem nos remédios e doenças dos países mais avançados, onde
estão os mercados mais promissores, os capitais são mais robustos e o
nível de renda é mais alto.
Não é casual que a atenção se dirija
a problemas como impotência, calvície ou drogas contra rugas, enquanto
pouco se destina a endemias tropicais e infecções respiratórias.
Mais que economia, há política externa e estratégia de desenvolvimento
social por trás de cada decisão de política de saúde. É questão de governo,
e não de apenas um ministério.
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