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O FMI E A POBREZA
"Existe um inter-relacionamento vital entre crescimento e desenvolvimento social. Esse vínculo tem sido
demasiado frouxo em nossos programas até agora". Foram palavras
proferidas há meses por Michel
Camdessus, hoje o diretor-gerente
demissionário do Fundo Monetário
Internacional. O "mea culpa" repercutiu, especialmente aqui.
Qual foi o resultado prático das declarações do alto mandatário não se
soube. Hoje, pouco tempo depois,
discute-se a sucessão de Camdessus,
e um funcionário do FMI no Brasil
critica o projeto do fundo contra a pobreza, recentemente aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do
Senado Federal, no velho estilo dos
observadores externos da instituição.
O funcionário do Fundo foi longe
demais nas suas críticas. Como atestou o ministro da Fazenda do Brasil,
Pedro Malan, com bom trânsito no
FMI, é prerrogativa das instituições
brasileiras deliberar sobre a administração dos recursos do Orçamento.
Houve, sim, uma opção por parte
dos autores do projeto por utilizar o
rendimento do dinheiro arrecadado
com privatizações na constituição do
fundo contra a pobreza. O montante
principal será utilizado no abatimento da dívida somente daqui a dez
anos, o que implica um custo adicional por não se ter tomado essa providência mais cedo. Ao que consta, por
pressões de Malan, ficará expresso na
Constituição, se aprovado o projeto,
que, com a extinção do fundo de
combate à pobreza, em 2010, seus
"recursos serão integralmente utilizados no abatimento da dívida da
União, sendo vedada, a qualquer
tempo, a utilização desses recursos
para outra finalidade".
Vale discutir também de que maneira será administrado o fundo. Pesquisas apontam que grande parte do
gasto público no setor social é apropriado pela classe média, não atingindo a população mais pobre. No
entanto, isso não invalida a criação de
um novo fundo. Pelo contrário, serve
de alerta para que os mesmos vícios
de origem não sejam repetidos desta
feita e que os antigos sejam corrigidos. Há experiências bem-sucedidas
de programas de bolsa-escola em algumas municipalidades que poderiam talvez inspirar o funcionamento
do novo fundo.
De todo modo, pelo menos enquanto a preocupação social de Camdessus não aflorar nas políticas do
Fundo, seria bem mais saudável que
o FMI se mantivesse afastado desse
tipo de discussão.
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