|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PESQUISA FECHADA
Vai crescendo a pressão da
comunidade científica para que
a indústria farmacêutica publique os
resultados das pesquisas com medicamentos que realiza. O pleito, legítimo, é fundamental para o avanço da
ciência, cujo pressuposto é a ampla
troca de informação entre os que a
produzem. O problema é que esse
princípio freqüentemente esbarra
nos interesses comerciais dos grandes laboratórios. Não faz sentido na
economia de mercado que uma empresa publique resultados de testes
que lhe sejam desfavoráveis.
Os interesses parecem inconciliáveis. Não há dúvida de que a ciência
deva prevalecer, pois é nela que se depositam as esperanças de milhões de
pessoas que poderiam se beneficiar
de informação mais precisa.
É ilustrativa, a esse respeito, a opinião de especialistas da Cancer Research UK, ONG britânica que apóia
pesquisas oncológicas. Segundo o
chefe dos programas clínicos da instituição, divulgar os resultados é fundamental para que a comunidade
médica possa indicar o melhor tratamento possível para os pacientes.
Estudo realizado em 2003 mostrou
que, de 500 pesquisas clínicas relacionadas ao câncer anunciadas em
simpósios, 26% não tiveram seus resultados publicados nem após cinco
anos. E o que interessa para a ciência
-e para os pacientes- são justamente os resultados desfavoráveis.
Se apenas o que parece bom chega
ao domínio público, cria-se um viés
sugestivo de que o tratamento e as
drogas apresentam mais eficiência
do que de fato possuem. Num raciocínio extremo, a não-publicação resulta em propaganda enganosa.
Entre reconhecer a necessidade da
publicação e convencer a indústria a
acatá-la há grande distância. De toda
forma, a pressão parece estar surtindo algum efeito. Nesta semana, representantes de laboratórios anunciaram a criação de uma base de dados na qual empresas poderão, se
quiserem, fazer a divulgação parcial
dos resultados de seus testes. Não
deixa de ser um começo.
Texto Anterior: Editoriais: A REAÇÃO DE PUTIN Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O plebiscito do B Índice
|