São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI Lei ou desodorante? MUNIQUE - Marco Maciel, o ex-vice-presidente, costumava dizer,
quando lhe pediam previsões sobre
o futuro, que só as fazia sobre o passado. Pedro Malan, o ex-ministro
da Fazenda, aperfeiçoou a evasiva.
Dizia que, no Brasil, nem o passado
podia ser "previsto", porque era tão
sujeito a chuvas e trovoadas quanto
o futuro.
Agora, chegamos à perfeição. O
passado é "vupt-vapt". Uma regra
legal que deveria ser permanente
dura escassas 48 horas.
Refiro-me a esse palavrão transformado em assunto do dia na política, a tal de verticalização, que deveria ser 100% na primeira interpretação da regra, mas passou a ser
sabe-se lá quantos por cento na segunda interpretação da mesma regra, feitas, uma e outra, pelo mesmíssimo ministro das cortes mais
supremas, o TSE e o STF.
Escrevo de manhã aqui em Munique, quando os ministros dormem,
justamente para não correr o risco
de ter que mudar o texto, pois sempre é possível que uma terceira (ou
quarta ou quinta) interpretação
surja ao raiar do dia.
Tenho a leve impressão de que o
brasileiro já nem se dá conta de
quão ridículo é o seu país com esse
tipo de legislação-desodorante,
com prazo curto de validade. Entre
outras mil coisas ridículas que acabam sendo incorporadas como parte da paisagem.
Começa, aliás, pelo fato de que
verticalização nem deveria ser objeto de regras. Em um país minimamente sério, não seria preciso estabelecer coerência nas coligações
partidárias. Ela seria decorrência
inevitável de programas, idéias,
doutrinas, que, naturalmente, seriam idênticas na Bahia ou no Rio
Grande do Sul, em Tocantins ou no
Rio de Janeiro.
Mas é preciso ser muito cretino
para pensar em idéias, doutrinas,
programas no Brasil. É tudo "vupt-vapt".
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