São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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CARLOS HEITOR CONY
O consenso

RIO DE JANEIRO - Poucas vezes na história da comunicação de massa houve um fato que concentrasse tantas e tamanhas atenções. No final da 2� Guerra Mundial, não havia TV nem internet. No atentado do World Trade Center, a tragédia foi fatiada pelas investigações policiais e implicações políticas. Não houve emoção. Houve estupor.
A morte de João Paulo 2�, mais do que anunciada, envolveu ingredientes emocionais pelo tipo de homem que foi e pelo tipo de líder que ele se tornou. Inicialmente, apenas o chefe de uma religião poderosa, mas não única. O catolicismo, com seu bilhão de adeptos, representa apenas um sexto da população mundial. Não seria essa a causa da emoção pelo seu desaparecimento se atentarmos para o fato de que grande parte dos católicos contestavam não a sua liderança, mas a sua atitude diante de problemas que estão na ordem do dia, desafiando não apenas a linha oficial do Vaticano mas a legislação civil de diversos países.
No entanto todos concordam que o papa Wojtyla soube empolgar multidões as mais variadas. Nenhum pop star conseguiu reunir tanta gente para ouvir suas palavras, mesmo que não concordasse com elas.
Independentemente dos credos e das opiniões divergentes, mesmo entre os católicos de carteirinha, houve o consenso. Estávamos diante de um homem desarmado, sem poder civil ou militar, que pregava a concórdia entre todos os homens, a paz entre as nações, a fé e, acima de tudo, a esperança numa humanidade mais justa. Se atentarmos às aparições públicas de João Paulo 2�, notaremos que, subliminarmente, ele nunca deixou de ser um fabuloso ator, que não precisava dançar nem cantar -é bem verdade que muitas vezes cantava, inclusive o "Cidade Maravilhosa" no Rio e a "Marselhesa" em Paris.
Não foi por aí que o papa se tornou o fenômeno audiovisual do nosso tempo. Ele falou ao coração de todos, acreditando que o homem poderia ser melhor.

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