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CARLOS HEITOR CONY
O consenso
RIO DE JANEIRO - Poucas vezes na história da comunicação de massa
houve um fato que concentrasse tantas e tamanhas atenções. No final da
2� Guerra Mundial, não havia TV
nem internet. No atentado do World
Trade Center, a tragédia foi fatiada
pelas investigações policiais e implicações políticas. Não houve emoção.
Houve estupor.
A morte de João Paulo 2�, mais do
que anunciada, envolveu ingredientes emocionais pelo tipo de homem
que foi e pelo tipo de líder que ele se
tornou. Inicialmente, apenas o chefe
de uma religião poderosa, mas não
única. O catolicismo, com seu bilhão
de adeptos, representa apenas um
sexto da população mundial. Não seria essa a causa da emoção pelo seu
desaparecimento se atentarmos para
o fato de que grande parte dos católicos contestavam não a sua liderança,
mas a sua atitude diante de problemas que estão na ordem do dia, desafiando não apenas a linha oficial do
Vaticano mas a legislação civil de diversos países.
No entanto todos concordam que o
papa Wojtyla soube empolgar multidões as mais variadas. Nenhum pop
star conseguiu reunir tanta gente para ouvir suas palavras, mesmo que
não concordasse com elas.
Independentemente dos credos e
das opiniões divergentes, mesmo entre os católicos de carteirinha, houve
o consenso. Estávamos diante de um
homem desarmado, sem poder civil
ou militar, que pregava a concórdia
entre todos os homens, a paz entre as
nações, a fé e, acima de tudo, a esperança numa humanidade mais justa.
Se atentarmos às aparições públicas
de João Paulo 2�, notaremos que, subliminarmente, ele nunca deixou de
ser um fabuloso ator, que não precisava dançar nem cantar -é bem
verdade que muitas vezes cantava,
inclusive o "Cidade Maravilhosa" no
Rio e a "Marselhesa" em Paris.
Não foi por aí que o papa se tornou
o fenômeno audiovisual do nosso
tempo. Ele falou ao coração de todos,
acreditando que o homem poderia
ser melhor.
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