São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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Para acabar com a guerra na Palestina 2


A declaração de independência do Estado de Israel mostra o desejo de viver em paz com os países vizinhos


NATAN BERGER, EDDA M. BERGMANN, PEDRO PAULO KÖVESI

O professor Emir Sader, em seu emocional texto publicado nesta Folha (4/1) procurando uma paz justa e duradoura para o Oriente Médio, esqueceu-se de alguns fatos históricos, fundamentais para entendermos a razão de esse conflito, iniciado em 1948, perdurar até hoje.
A Assembléia Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947, presidida por Oswaldo Aranha, ao propor a partilha do território do mandato britânico da Palestina em dois novos Estados, um árabe e um judeu, tornava possível ao povo judeu restabelecer-se em sua terra ancestral, da qual fora expulso pelos romanos, mas da qual jamais se desligou. Jerusalém seria uma cidade internacionalizada, com o acesso aos lugares santos das três religiões assegurado a todos.
O conflito árabe-israelense tem origem na recusa por parte dos países árabes em reconhecer o direito de Israel de existir. A declaração de independência do Estado de Israel mostra claramente o desejo de viver em paz e cooperação com todos os países vizinhos. A resposta árabe foi o não-estabelecimento do Estado palestino e uma invasão dos Exércitos do Egito, da Síria, da Jordânia, do Iraque e do Líbano, com o objetivo de "jogar os judeus no mar".
Não havia, nas lideranças políticas árabes da época, nenhuma vontade de estabelecer mais um país. Nem havia, por parte da população árabe do mandato britânico da Palestina, nenhuma aspiração nacionalista que catalisasse a criação de um Estado palestino.
O sofrimento dos refugiados árabes palestinos tem seu início no cessar-fogo, quando os territórios destinados ao Estado palestino são anexados pelo Egito e pela Jordânia. Jerusalém foi dividida, deixando os judeus sem acesso a seus lugares santos. Cerca de 600 mil refugiados árabes não foram aceitos nos países vizinhos, sendo confinados a campos de refugiados. Centenas de milhares de judeus que viviam nos países árabes da região também foram expulsos. A diferença é que Israel acolheu a todos, assim como o fez mais recentemente com os judeus etíopes, com os judeus dos países do Leste Europeu e com os refugiados da guerra nos Bálcãs.
O professor Sader acusa Israel pelo sofrimento do povo palestino. Esquece-se de que quem confinou os refugiados palestinos, negando-lhes direitos, foram os governantes árabes, que fomentaram e manipularam o movimento palestino.
Vivem em Israel, hoje, como cidadãos israelenses, com plenos direitos democráticos, inclusive com deputados eleitos, cerca de 1 milhão de árabes. Foram necessários 29 anos e quatro guerras para que o Egito se tornasse a primeira nação árabe a reconhecer o Estado de Israel, firmando um acordo de paz. Na década de 90, a Jordânia também o fez. Mas grande parte do mundo árabe ainda hoje ensina às crianças o ódio. Nos mapas dos livros escolares não existe Israel; não preparam as gerações futuras para a paz com Israel. Ambos os povos perderam muitos filhos em guerras; refugiados revoltam-se, com razão, por suas condições de vida; e covardes atentados terroristas criaram feridas de difícil cicatrização no povo israelense.
A delicada situação criada por radicais islâmicos, que, ao jogarem pedras do alto do Monte do Templo -ou Esplanada das Mesquitas- sobre judeus que oravam junto ao Muro das Lamentações, fez com que o líder oposicionista Sharon fizesse uma visita pacífica ao local, combinada com o Wakf (órgão islâmico que administra os lugares santos do islã). Esses radicais transformaram a visita em pretexto para iniciar uma onda de ódio que, em três meses, destruiu muito da confiança e do trabalho de paz construídos desde o aperto de mão entre Rabin e Arafat na Casa Branca.
As tristes cenas que assistimos pela TV e vimos nos jornais mostram crianças e jovens palestinos com pedras e coquetéis molotov atacando soldados israelenses que estavam em postos de fronteira delimitados pelos acordos de Oslo. Por trás desses jovens, estavam os radicais contrários à paz, atirando, criando uma situação insana, onde crianças foram colocadas em zonas de tiroteio com o intuito de criar mártires.
É claro que 53 anos de conflito não são fáceis de resolver. Os acordos de Oslo foram concebidos como um processo em que os dois povos, reconhecendo mutuamente seus direitos a fronteiras seguras, passariam a coexistir e a cooperar para estabelecer o Estado Palestino em Gaza e na Cisjordânia. Essa convivência e essa confiança, se construídas, permitiriam que o status final de Jerusalém fosse acertado ao final do processo. A velocidade da implementação dos acordos foi menor devido à ação de radicais de ambos os lados. Mas um enorme progresso já havia sido atingido.
Se desejamos realmente a paz, não enviamos nossos filhos para a guerra; se queremos paz, educamos nossas crianças para a paz; se queremos nossas crianças em segurança, não colocamos armas em suas mãos e não as deixamos ir para áreas de conflito.
No início do século 21, é preocupante, caro professor Sader, esse velho discurso, à moda dos "Protocolos dos Sábios do Sião", de "lobby sionista que pressiona os órgãos formadores de opinião", até mesmo no Brasil. Os jornalistas respeitados formam suas opiniões analisando a realidade dos fatos, não se submetendo a pressões. No mundo democrático, a imprensa é livre, assim como o direito à opinião. Vale lembrar o dito popular: "Quando um não quer, dois não brigam". Paz, shalom, salam!


Natan Berger é presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo. Edda M. Bergmann é presidente da B'nai B'rith do Brasil. Pedro Paulo Kövesi é diretor de Direitos Humanos da B'nai B'rith do Brasil.




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