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New York Times

Na Copa, mas de costas para o campo

Seguran�as de est�dios perdem jogos da Copa

Por ANDREW KEH e SERGIO PE�ANHA

FORTALEZA, Brasil - Em princ�pio, o emprego poderia parecer o melhor do Brasil. Os deveres inclu�am comparecer aos jogos da Copa do Mundo e ficar pr�ximo � a��o que prende a aten��o de dezenas de milh�es de pessoas por todo o mundo.

Quem conseguisse o emprego estaria presente na hist�ria do futebol, enquanto aos outros restaria checar o placar em seus telefones celulares e conferir as jogadas em telas de computador.

Mas h� um detalhe desagrad�vel nesse emprego: � proibido assistir ao jogo, mesmo que por um minuto.

Ali�s, n�o � permitido sequer olhar para o campo.

D� pena dos guardas de seguran�a da Copa do Mundo, essas almas sofredoras, incumbidas de manter a ordem nos est�dios vibrantes observando atentamente as arquibancadas.

Independentemente de quem ven�a a Copa do Mundo deste ano, esses guardas talvez componham as poucas dezenas de pessoas no Brasil que n�o veem os jogos.

"Se eu noto que eles est�o acompanhando o jogo, sou obrigado a lhes fazer uma advert�ncia", disse Karlo Saltoris, coordenador de seguran�a na Arena das Dunas, o est�dio em Natal. "O trabalho deles � manter as escadas e sa�das de emerg�ncia desobstru�das."

Com uniformes alaranjados berrantes, os guardas ficam de sentinela no campo, com os bra�os cruzados atr�s das costas, e desviam o olhar do gramado onde astros como Messi, Xavi e Neymar chamam a aten��o de todo o planeta.

Est�dios em outros pa�ses t�m guardas como medida de seguran�a. Mas os campos nas 12 cidades-sedes da Copa do Mundo no Brasil s�o palcos maiores e mais chamativos do que os demais. Os guardas que atuam nos campos de futebol s�o como amantes de arte for�ados a andar de olhos vendados no Louvre.

Alguns seguran�as admitiram, sob a condi��o de manter o anonimato por medo de perder o emprego, que de vez em quando conseguem ver os jogos de relance. Um guarda foi visto com a cabe�a virada e uma express�o tensa quando o her�i brasileiro Neymar fez o gol da vit�ria contra a Cro�cia.

"� poss�vel ver um pouquinho dos jogos", disse um seguran�a em Natal antes da partida. "De vez em quando, � preciso virar-se ligeiramente, caso a bola venha em sua dire��o."

Mas para Saltoris, homem com postura militar e um r�dio transmissor que chia sem parar, uma bola voando na Copa do Mundo n�o � desculpa para seus guardas negligenciarem suas fun��es.

"Mesmo que a bola os atinja, eles devem ficar impass�veis", disse. "E, caso se machuquem, temos param�dicos para cuidar deles."

O manual de Regulamentos de Seguran�a Pessoal e em Est�dios da Fifa deixa isso bem claro. O C�digo de Conduta dos Funcion�rios n�o abre exce��o no caso do "jogo bonito". "Os funcion�rios n�o s�o empregados ou contratados para assistir ao evento", afirma o manual. "Eles devem se concentrar o tempo todo em seus deveres e responsabilidades."

O Brasil tem sido amplamente criticado pela desorganiza��o nos preparativos para o evento. Protestos e manifesta��es contra o dinheiro gasto na Copa do Mundo amea�aram prejudicar os jogos.

Houve algumas falhas de seguran�a nas primeiras partidas. Poucos dias ap�s o in�cio da Copa, cerca de 30 torcedores sem ingressos empurraram os guardas e entraram no est�dio do Rio de Janeiro. Em um v�deo feito com telefone celular, guardas de seguran�a aparecem desamparados ao lado dos port�es arrombados.

Mauricio Vargas, volunt�rio de 26 anos que coordena os �nibus de traslado diante do est�dio em Fortaleza, comentou que por dinheiro algum ele trabalharia de costas para o campo. Ele sabe que isso o privaria de testemunhar momentos hist�ricos.

"O coordenador fica nos observando como um ca�ador", disse ele, erguendo um rifle imagin�rio na altura dos olhos.

Antes de um jogo, Vargas disse que negligenciaria seus deveres se necess�rio, sem se importar com as consequ�ncias. "Hoje vou dizer aos coordenadores que verei esse jogo", afirmou ele. "N�o me importo se eles discordarem. Vou ver o jogo, custe o que custar."

Os seguran�as que ficam nas arquibancadas superiores t�m mais sorte, pois pelo menos ficam de frente para o campo, embora enxerguem os jogadores apenas como borr�es coloridos tremeluzindo em um vasto oceano verde.

"Esse � um bom emprego, pois � poss�vel assistir ao jogo e ser pago", disse um guarda no n�vel superior.

Diga isso aos guardas obrigados a ignorar o campo, cuja situa��o � t�o cruel que faz pensar no mito grego de T�ntalo. Os deuses obrigaram T�ntalo a sofrer fome e sede eternas. Ele ficava sob uma �rvore com frutos pendendo para baixo, mas sempre fora de seu alcance, e toda vez que tentava tomar �gua o lago recuava.

Ele � a raiz da palavra "tantalizing", ou "tentador" em portugu�s. Certamente os guardas de seguran�a na Copa do Mundo a conhecem.


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