São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005


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SOB NOVA DIREÇÃO

Por conhecerem o dono e o negócio, "filhotes" conseguem até melhores preços

Ser prata da casa ajuda a negociação

DA REPORTAGEM LOCAL

Ser prata da casa é ponto a favor na hora de se tornar o segundo dono de uma empresa. Conhecer o funcionamento do negócio e acumular experiência no setor já são fatores que ajudam na obtenção de resultados. Além disso, a possibilidade de barganhar um bom preço com o antigo patrão é mais real para os ex-funcionários.
Donas da farmácia de manipulação Fórmula Ativa, Patrícia Brimberg, 36, e Simone Diniz, 33, ascenderam de estagiárias a proprietárias da casa há dez anos.
Na época, a dupla recém-formada no curso de farmácia cuidava de tudo na empresa, desde o controle de estoque até a manipulação das fórmulas solicitadas.
"O dono havia aberto outro negócio e largou a farmácia na mão da gente. Não estava muito preocupado em ganhar dinheiro aqui", lembra. "Como [o antigo dono] era nosso amigo, resolvemos fazer uma proposta "indecente" de compra, sugerindo um valor muito baixo. Para nossa surpresa, ele topou e ainda facilitou as condições de pagamento."
Os susto foi grande, mas não maior que o trabalho que as duas tiveram de enfrentar nos anos seguintes. "Já que tínhamos conseguido, tudo deveria ser bem-feito. Então perseguimos diferenciais como implementar entregas em toda a cidade de São Paulo. Quebramos a cabeça", diz Brimberg.
O esforço levou a resultados. De lá para cá, o volume de fórmulas manipuladas mensalmente pela Fórmula Ativa saltou de 400 para 8.000. E no lugar da equipe formada pelas duas "faz-tudo" hoje trabalham 36 funcionários. A casa original ficou pequena, e uma segunda teve de ser alugada para comportar o escritório.
O próximo passo é mudar para a sede nova, que já está em obras. "Agora vamos erguer o modelo dos nossos sonhos", diz Brimberg. E descreve: "Teremos laboratórios de vidro para que todos possam ver os procedimentos de manipulação, espaço para crianças, gerente para atender clientes diabéticos e área de convivência para os funcionários", enumera.
"Quando compramos a farmácia foi ótimo porque não teríamos dinheiro para montar a infra-estrutura. Mas o preço disso era ter uma estrutura que não era como sonhávamos. Agora vamos fazer tudo do nosso jeito", analisa.

Dança que transforma
Há dois anos, Fernanda Zuppo, 24, era uma estudante universitária que dava aulas de balé numa escola de dança. Foi professora durante oito anos.
"Um dia a dona chegou para mim, disse que passaria o ponto e perguntou se eu queria comprá-lo", relata. "Respondi que queria muito, mas que tudo ia depender do valor. Negociamos, e ela reduziu a proposta inicial pela metade. O fato é que não queria entregar a escola a qualquer um."
Zuppo diz ter "raspado" todas as suas economias e ainda precisou pedir um empréstimo ao pai para conseguir fechar o negócio. "Mas todos os consultores diziam que estava fazendo uma besteira porque, embora a escola não tivesse nenhuma dívida, o custo dela era muito alto", conta. "Mesmo assim segui adiante."
Ainda sem ter recuperado o investimento inicial, a dona do Estúdio de Dança Fernanda Zuppo comemora resultados como ter dobrado o número de alunos.
"Promovi uma mudança radical no conceito. Antes a escola era mais focada num caráter terapêutico, de bem-estar. Deixei isso para trás e transformei-a numa academia de dança, com graduação e exames", afirma. A metamorfose teve seu preço. "Perdi uma parte dos clientes originais."
Segundo consultores, a mudança de conceito é um dos processos mais arriscados para quem compra um negócio já existente (leia mais no quadro abaixo). (TD)


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