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MEMÓRIA
Nova geração de historiadores da Alemanha supera traumas e preconceitos e amplia análise dos crimes nazistas
Alemães expandem estudo do Holocausto
NICOLAS WEILL
DO ""LE MONDE"
Embora a historiografia do Holocausto tenha sido dominada
por muito tempo por americanos
ou israelenses, alguns historiadores na Alemanha, desde muito cedo, consagraram obras importantes para a análise do regime nazista, começando por um opositor
deportado, o intelectual católico
Eugen Kogon, autor de ""L'État
SS" (o Estado SS, 1946). Em 1949
foi criado o Instituto de História
Contemporânea de Munique
(IHC), cujos trabalhos tratavam,
em sua maioria, do período nazista. O Instituto de Pesquisas Sociais de Hamburgo, fundado em
1984 por Jan Philipp Reemtsma,
também teve papel importante.
Martin Broszat, que dirigiu o
IFZ, ou Hans Mommsen, líder na
Alemanha da escola dita ""funcionalista" (que explicava a ""solução
final" pela mecânica da guerra e
do regime, não pela intenção de
seus autores), são algumas das figuras importantes da historiografia do nazismo. Mas outra geração
de pesquisadores virou essas pesquisas de ponta-cabeça. Na verdade, ela tem dificuldade em encontrar lugar na universidade alemã, tanto que vários de seus proponentes entraram para universidades americanas.
Nascidos muito após o conflito,
alguns desses historiadores estiveram estreitamente vinculados
ao movimento de 1968 alemão,
como é o caso do historiador e
jornalista Götz Aly ou de Karl-Heinz Roth. ""Trata-se de um grupo?" pergunta o historiador berlinense Peter Schottler (Instituto de
História do Tempo Presente,
IHTP). ""Todos se conhecem, mas
suas trajetórias políticas divergem. Alguns são antigos líderes
estudantis, como Roth; outros,
mais jovens, estiveram próximos
dos Verdes e dos chamados "ateliês de história"."
Apesar de suas trajetórias distintas, o efeito de grupo vem do
fato de esses historiadores contribuírem para obras coletivas provocadas pela abertura dos arquivos do leste. Assim, a publicação
do ""Calendrier d'Himmler" (calendário de Himmler) agrupou
vários nomes dessa nova história,
como Christian Gerlach, Dieter
Pohl e Michael Wildt.
Raízes comuns
Götz Aly é também autor, com
Christian Gerlach, de um trabalho
recente sobre a deportação dos judeus da Hungria em 1944, ""Das
Letzte Kapitel" (o último capítulo). Este mostra que os pesquisadores não hesitam mais em aventurar-se por territórios externos à
história alemã.
Podemos também encontrar
raízes comuns dessa ""nova escola" nos trabalhos do sociólogo
alemão emigrado aos EUA Franz
Neumann, o primeiro que, em
seu livro ""Behemoth", de 1942,
pôs em evidência a multiplicação
das instâncias de decisão no interior do regime nazista.
Muitos também leram a obra do
sociólogo britânico de origem polonesa Zygmunt Bauman, que,
em ""Modernité et Holocauste"
(modernidade e Holocausto),
procurou destacar a relação entre
a racionalidade moderna e o empreendimento nazista de destruição. Para Pieter Lagrou, da Universidade Livre de Bruxelas, esses
historiadores praticam ""uma crítica dos conceitos fundamentados na noção de singularidade do
genocídio". Longe de ter sido um
acontecimento que poderia ser
tratado por si só ou explicado exclusivamente pelo anti-semitismo
alemão, o assassinato dos judeus
da Europa deve, para ele, ser revisto no contexto da política nazista de restruturação (especialmente étnica) da Europa.
Assim, em ""Endlösung" (solução final), Götz Aly mostrou como as deportações de judeus, assim como o extermínio sistemático dos doentes mentais sob o programa T4, estavam vinculados à
decisão de ""reintegrar" ao território do Reich os ""alemães étnicos"
dispersos pelo leste da Europa.
Essas novas abordagens também remetem a especialistas e intelectuais: em 1940, geólogos garantiram que o solo de Madagascar era suficientemente pobre em
recursos minerais para que se cogitasse em promover a deportação em massa dos judeus para lá.
Vários estudiosos puseram seu
saber a serviço de uma reformulação dos perfis demográficos de
uma Europa submetida ""manu
militari" a um redesenho no qual
os judeus não tinham mais lugar.
O cruzamento sistemático das
fontes alemãs com documentos
poloneses, ucranianos e judeus é
outra característica dessas novas
abordagens. Assim, Michael Esch,
pesquisador do Centro Marc
Bloch (Berlim), cruzou os arquivos alemães com as fontes deixadas pelos médicos judeus do gueto de Varsóvia para estudar a política sanitária do Reich na Polônia.
O interesse surgido nos anos 90
pelas espoliações e pelo roubo de
bens dos judeus acabou levando
alguns especialistas a estudar os
fatores econômicos, não só ideológicos, da violência em massa.
Tradução de Clara Allain
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