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MISSÃO NO CARIBE
ONU ainda tem muito a fazer no país, diz comandante
Soldados da China vivem em "oásis" no caos do Haiti
JEAN-MICHEL CAROIT
DO ""LE MONDE", EM PORTO PRÍNCIPE
Em meio ao caos que continua a
dominar o cotidiano dos moradores de Porto Príncipe, a capital
do Haiti, quase um ano depois da
queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, o acampamento
instalado pelos capacetes azuis
(soldados que participam de missões de manutenção da paz ou de
estabilização das Nações Unidas)
chineses é um oásis de disciplina e
de limpeza.
""Nossa primeira missão foi limpar as pilhas de lixo e construir
nossos dormitórios, nossa cozinha e nosso hospital", conta Zhao
Xiao Xun, comandante dos 125
policiais chineses postos à disposição da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (Minustah), chefiada pelo Brasil.
""Todos os equipamentos vêm
da China, inclusive os veículos,
entre eles dois blindados leves, o
gerador e o aparelho de purificação de água", diz o comandante.
Na China, Zhao comandava uma
força de 120 mil policiais da força
antimotim.
Instalado no parque industrial,
perto do aeroporto de Porto Príncipe, o acampamento vive de maneira auto-suficiente. Entre uma
missão e outra, os jovens policiais
jogam ""badminton" (uma espécie de tênis jogado com peteca) ou
se comunicam com suas famílias
via internet.
""Eles fazem muito esporte para
combater o estresse, e damos
grande importância à disciplina
para evitar o tipo de problema
que prejudicou a imagem das Nações Unidas no Congo", afirma o
comandante. Capacetes azuis de
outras nacionalidades foram acusados de estupro e de controlar
uma rede de prostituição no país.
Aulas de história
É a primeira vez em que Pequim
envia capacetes azuis à região.
Nove anos atrás, a China se opôs à
manutenção de uma força da
ONU no Haiti, depois de o vice-presidente de Taiwan ter comparecido à posse do presidente haitiano da época, René Préval. Pequim considera Taiwan uma
"Província rebelde".
""O Haiti mantém relações diplomáticas com a Província de
Taiwan, não conosco, e a decisão
de enviar os policiais foi difícil",
reconhece Zhao. Mas Pequim
vem se interessando cada vez
mais pelo Caribe e pela América
Latina. Em visita recente, o presidente Hu Jintao anunciou investimentos importantes na região.
Zhong Ling, uma das três policiais femininas do contingente
chinês, não se surpreendeu com a
miséria e a violência. ""Tivemos
aulas de história e de familiarização com a realidade do Haiti durante os três meses de preparo para as operações de manutenção
da paz que tivemos num centro
de treinamento perto de Pequim.
Muitos de nós já participaram de
operações das Nações Unidas em
Kosovo ou Timor Leste."
Nas últimas semanas, os policiais chineses fizeram várias intervenções nas favelas perigosas de
Cité Soleil e de Bel Air, situadas na
capital haitiana.
Recentemente, uma patrulha
chinesa salvou de uma situação
difícil dois policiais -um francês
e um canadense-, que estavam
sendo atacados por um grupo de
""quimeras", os partidários armados do ex-presidente Aristide.
Eles tinham se refugiado no telhado de uma casa. ""Ainda há muito
trabalho a fazer aqui no Haiti", diz
Zhao. ""O desarmamento não
avançou nada. Há cerca de 50 mil
armas nas mãos de civis, e os "quimeras" ainda constituem a principal ameaça."
Tradução de Clara Allain
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