São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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MISSÃO NO CARIBE

ONU ainda tem muito a fazer no país, diz comandante

Soldados da China vivem em "oásis" no caos do Haiti

JEAN-MICHEL CAROIT
DO ""LE MONDE", EM PORTO PRÍNCIPE

Em meio ao caos que continua a dominar o cotidiano dos moradores de Porto Príncipe, a capital do Haiti, quase um ano depois da queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, o acampamento instalado pelos capacetes azuis (soldados que participam de missões de manutenção da paz ou de estabilização das Nações Unidas) chineses é um oásis de disciplina e de limpeza.
""Nossa primeira missão foi limpar as pilhas de lixo e construir nossos dormitórios, nossa cozinha e nosso hospital", conta Zhao Xiao Xun, comandante dos 125 policiais chineses postos à disposição da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (Minustah), chefiada pelo Brasil.
""Todos os equipamentos vêm da China, inclusive os veículos, entre eles dois blindados leves, o gerador e o aparelho de purificação de água", diz o comandante. Na China, Zhao comandava uma força de 120 mil policiais da força antimotim.
Instalado no parque industrial, perto do aeroporto de Porto Príncipe, o acampamento vive de maneira auto-suficiente. Entre uma missão e outra, os jovens policiais jogam ""badminton" (uma espécie de tênis jogado com peteca) ou se comunicam com suas famílias via internet.
""Eles fazem muito esporte para combater o estresse, e damos grande importância à disciplina para evitar o tipo de problema que prejudicou a imagem das Nações Unidas no Congo", afirma o comandante. Capacetes azuis de outras nacionalidades foram acusados de estupro e de controlar uma rede de prostituição no país.

Aulas de história
É a primeira vez em que Pequim envia capacetes azuis à região. Nove anos atrás, a China se opôs à manutenção de uma força da ONU no Haiti, depois de o vice-presidente de Taiwan ter comparecido à posse do presidente haitiano da época, René Préval. Pequim considera Taiwan uma "Província rebelde".
""O Haiti mantém relações diplomáticas com a Província de Taiwan, não conosco, e a decisão de enviar os policiais foi difícil", reconhece Zhao. Mas Pequim vem se interessando cada vez mais pelo Caribe e pela América Latina. Em visita recente, o presidente Hu Jintao anunciou investimentos importantes na região.
Zhong Ling, uma das três policiais femininas do contingente chinês, não se surpreendeu com a miséria e a violência. ""Tivemos aulas de história e de familiarização com a realidade do Haiti durante os três meses de preparo para as operações de manutenção da paz que tivemos num centro de treinamento perto de Pequim. Muitos de nós já participaram de operações das Nações Unidas em Kosovo ou Timor Leste."
Nas últimas semanas, os policiais chineses fizeram várias intervenções nas favelas perigosas de Cité Soleil e de Bel Air, situadas na capital haitiana.
Recentemente, uma patrulha chinesa salvou de uma situação difícil dois policiais -um francês e um canadense-, que estavam sendo atacados por um grupo de ""quimeras", os partidários armados do ex-presidente Aristide. Eles tinham se refugiado no telhado de uma casa. ""Ainda há muito trabalho a fazer aqui no Haiti", diz Zhao. ""O desarmamento não avançou nada. Há cerca de 50 mil armas nas mãos de civis, e os "quimeras" ainda constituem a principal ameaça."


Tradução de Clara Allain


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