São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Emoção marca manifestação em Juiz de Fora pela libertação de Vasconcellos, seqüestrado no Iraque no dia 20

Ato por brasileiro capturado reúne até 2.000

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Moradores árabes de Juiz de Fora e uma irmã do engenheiro (primeira da esq. para a dir.) participam de ato por sua libertação


ADRIANA CHAVES
ENVIADA ESPECIAL A JUIZ DE FORA

O clima era de comoção ontem na manifestação que reuniu entre 1.500 e 2.000 pessoas na praça Halfeld, em frente à Câmara Municipal de Juiz de Fora, para pedir pela libertação engenheiro João José Vasconcellos Júnior, 49, capturado por terroristas nos arredores de Beiji (norte do Iraque) no último dia 20.
Por toda praça foram espalhadas faixas agradecendo o apoio do governo, dos comerciantes e entidades participantes do ato, e ao povo. "Brasileiros e iraquianos unidos na construção de um mundo melhor", "O Brasil clama pela liberdade de João", "Temos fé e esperança na volta do nosso João Vasconcellos", diziam algumas das faixas espalhadas.
De mãos dadas, formando uma grande corrente, o público presente fez orações para pedir que os seqüestradores soltassem Vasconcellos Jr. O Hino Nacional foi entoado duas vezes, além do Hino da República e canções mineiras. Muitas pessoas se emocionaram.
Os pais de Vasconcellos -João José, 74, e Maria de Lourdes, 78- não compareceram ao evento. Segundo parentes, eles estão muito abalados e sem condições psicológicas de falar sobre o assunto. A mulher e os três filhos também estão sendo preservados e continuam escondidos.
As 950 camisetas com a foto do engenheiro, as bandeiras do Brasil, do Iraque e de Juiz de Fora e a palavra liberdade impressas acabaram uma hora após o início do movimento. Foram distribuídos ainda manifestos sobre a amizade entre brasileiros e iraquianos.
Comunidades árabes e islâmica estiveram presentes. "Estamos pedindo a Deus para que tudo se resolva bem", disse a presidente do Departamento Feminino Muçulmano de Juiz de Fora, Kheireih Hammoud, 37.
Parte do público, em geral pessoas que conviveram com Vasconcellos Jr. durante sua infância e adolescência na cidade, carregavam placas com a foto do engenheiro e frases como "Volte logo João", "Estamos te esperando".
"Conheço a família há mais de dez anos. Trabalhei com eles e sei que são ótimas pessoas. Não merecem passar por isso. Estou orando para que o João seja solto logo e tudo acabe bem", disse a ajudante de serviços gerais Gléia Maria Lopes Ivo, 47.
"Nosso irmão não é inimigo do povo iraquiano. Nossa nação não é inimiga do povo iraquiano. Acreditamos no poder do povo, no poder da fé", disse a irmã do engenheiro, Isabel Cristina Vasconcellos, 45.
Para o irmão Luiz Henrique Vasconcellos, 47, "só quem já viveu em Juiz de Fora sabe como esse povo é solidário".
No sábado passado, o grupo Esquadrões Al Mujahidin reivindicou a autoria do seqüestro em vídeo divulgado e disse que agiu ao lado do grupo Ansar al Sunna. Segundo a família e a construtora Odebrecht, os seqüestradores não fizeram nenhum contato.
Ontem, os irmão do engenheiro negou a informação, supostamente divulgada pela empresa de segurança Janusian, de que ele teria sido ferido durante a ação. A expectativa é de que os seqüestradores façam contato a partir de hoje, após a eleição.
"Só pode ser especulação. Nos deslocamentos, meu irmão usava colete à prova de balas e, pela violência com que foi levado, devem ter deduzido que foi ferido no ombro, que ficava exposto", disse Isabel Cristina.
Luiz Henrique afirmou que só recebe informações do Itamaraty e da construtora, responsáveis pelas negociações. "Nunca fizemos contato com a empresa de segurança. A Odebrecht montou um sistema que permite receber o contato dos seqüestradores em qualquer um de seus escritório no mundo. Com o fim das eleições, acreditamos que eles tenham calma para nos procurar."


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