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Golpe derruba presidente de Honduras
Manuel Zelaya tentava realizar consulta popular sobre nova Constituinte apesar de rechaço de Justiça e Congresso
Após ser deposto por forças militares, líder é enviado para a Costa Rica; chefe do Legislativo é eleito por colegas presidente interino
Fernando Antonio/Associated Press
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Soldados cercam o palácio presidencial de Honduras, em Tegucigalpa, após o golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)
O presidente hondurenho,
Manuel Zelaya, foi deposto ontem por forças militares no dia
em que promovia uma consulta
popular para respaldar uma
nova Assembleia Constituinte.
É o primeiro golpe de Estado
no país desde 1981 e o primeiro
na América Central desde o fim
da Guerra Fria.
A ação, condenada por Brasil,
Venezuela e EUA, foi endossada pela maioria do Congresso,
entre os quais a bancada do
Partido Liberal de Zelaya.
Zelaya foi detido enquanto
dormia pouco antes das 6h,
dentro da residência oficial. Pelo menos um segurança ficou
ferido, segundo relatou à Folha
o assessor presidencial Hernán
Silva Baltodano.
Em seguida, ainda vestindo
pijamas, Zelaya embarcou para
a Costa Rica, onde disse ter sido vítima de um "sequestro
brutal, sem nenhuma justificativa" e pediu que o presidente
americano, Barack Obama, não
reconhecesse o "golpe".
A ação militar teve o respaldo da maioria do Congresso,
que, em sessão extraordinária,
apresentou uma suposta carta
de renúncia de Zelaya com a
data do dia 25, quinta-feira. O
texto, lido em plenária, afirma
que a renúncia tem como objetivo "sanar as feridas do ambiente sociopolítico".
Em seguida, os deputados
presentes (o Legislativo é unicameral) aprovaram por unanimidade a nomeação do presidente da Casa, o também liberal Roberto Micheletti, como
mandatário interino.
A maior parte da sessão foi
transmitida em cadeia nacional de rádio e TV. Durante a
posse, os canais a cabo, tanto
nacionais quanto estrangeiros,
ficaram fora do ar.
Em sua primeira entrevista,
Micheletti decretou toque de
recolher por 48 horas, a partir
das 21h locais. Ele negou que o
Exército tenha dado um golpe.
Segundo o presidente aclamado, os militares "cumpriram
uma ordem judicial", já que Zelaya estava "violando as leis".
Em novas declarações à tarde, Zelaya negou que tenha renunciado e disse que participaria da cúpula dos presidentes
da América Central, que começa hoje na Nicarágua.
"É totalmente falso, agora
que estou deduzindo que isso
não é um golpe militar, mas
uma conspiração política
apoiada pelo golpe militar, porque já estão querendo manipular de dizer essa terrível falsidade", disse Zelaya.
A crise hondurenha foi desatada por uma votação que Zelaya pretendia realizar no país
para buscar apoio à sua proposta de substituir a atual Constituição. Com o lema de "quarta
urna", Zelaya propunha a realização de um referendo sobre a
convocação de uma Constituinte nas eleições de novembro, quando devem ser escolhidos novos presidente, Legislativo e autoridades municipais.
A consulta de ontem foi declarada ilegal pela Justiça e pelo Congresso. Líderes da oposição e do próprio Partido Liberal acusam Zelaya de tentar
mudar a Constituição para introduzir a reeleição e se perpetuar no poder. O seu mandato
termina em janeiro de 2010.
Zelaya nega que tivesse a intenção de se reeleger imediatamente, mas admitia uma futura candidatura. Pela atual
Constituição, um ex-presidente nunca pode se recandidatar.
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