São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

FAO e Fome Zero não podem ser chamados de casos de sucesso

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

A passagem de José Graziano pelo primeiro governo Lula dificilmente poderia ser descrita como um caso de sucesso. Encarregado do Fome Zero, que tinha por objetivo garantir a segurança alimentar de todos os brasileiros, nem ele nem seu projeto duraram muito.
Foi só o programa se tornar alvo de críticas mais contundentes, pela falta de foco e até pelo equívoco de diagnóstico -em 2003 a obesidade já era um problema mais grave que a desnutrição-, que Graziano caiu e o Fome Zero virou um selinho aposto ao Bolsa Família.
A FAO tampouco representa uma história de sucesso. A ONU e suas agências nunca se notabilizam pela eficácia administrativa ou pela excelência técnica.
Ainda assim podem ser justificadas por constituírem a espinha dorsal do multilateralismo.
O problema da FAO, porém, é que seus padrões de eficiência são constrangedoramente baixos até quando comparados à já dispendiosa estrutura da ONU.
A insatisfação com a performance da agência, criada no pós-guerra com o propósito de combater a fome, teve início nos anos 70 e levou os países-membros a esvaziá-la.
Criaram dois organismos para tentar fazer o que a FAO não conseguia: o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e o Conselho Mundial de Alimentos (depois extinto e em parte substituído pelo Programa Mundial de Alimentos).
A FAO é um raro caso de organização que consegue ser duramente criticada pela esquerda, pela direita e por seus próprios dirigentes.
Para os conservadores, a FAO é uma caixa-preta, cuja estrutura paquidérmica e mediocridade técnica a tornaram irrelevante.
A esquerda jamais perdoou à agência o fato de ter defendido a utilização de transgênicos no combate à fome.
Foi acusada de ter-se colocado ao lado das grandes corporações.
O ataque mais brutal, entretanto, veio de suas próprias trincheiras. Em 1991, um alto dirigente da organização escreveu críticas demolidoras na revista britânica "The Ecologist". Disse que a agência falhara "desastrosamente" e acusou o então diretor-geral de autocrata preocupado apenas com a própria reeleição.
A pressão foi tanta que a própria FAO se curvou ao peso das evidências e, em 2005, aceitou submeter-se a uma avaliação externa independente. Dois anos depois, a comissão entregou seu relatório, no qual chancelou boa parte das críticas e propôs uma reforma, que, em tese, ainda está em andamento. É Graziano que vai comandá-la a partir de 2012.


Texto Anterior: Graziano diz que alta alimentar seguirá
Próximo Texto: Uruguai: Ditadura poderá ter crimes reinvestigados
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.