São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MULTIMÍDIA
The Independent - de Londres
Serra Leoa vira ameaça a correspondentes de guerra

KIM SENGUPTA
EM FREETOWN

Por volta das 12h50 da quarta-feira passada, Kurt Schork, Miguel Gil Moreno, Mark Chisholm e Yannis Behrakis partiram em dois táxis em direção ao entroncamento Rogberri. O lugar faz parte da "ferradura" estratégica que controla os caminhos pelos quais se chega a Freetown, a capital de Serra Leoa.
Os quatro jornalistas ocidentais estavam cientes dos riscos envolvidos. Mas acharam que as forças do governo exerciam controle suficiente sobre a área.
Em Rogberri, um oficial do Exército de Serra Leoa (ESL) lhes pediu uma carona para ele e seus homens. Os jornalistas costumam receber pedidos de carona do ESL. Uma recusa pode gerar um clima negativo e, ao mesmo tempo, o fato de andar na companhia de soldados os ajuda a abrir caminho pelos postos de controle.
Os dois carros partiram. O primeiro era dirigido por Kurt Schork, veterano correspondente de guerra da agência de notícias "Reuters", e levava os fotógrafos Mark Chisholm e Yannis Behrakis, o oficial do ESL e dois soldados. O cinegrafista premiado da "Associated Press" Miguel Gil Moreno dirigia o segundo.
Behrakis relatou o drama da emboscada. "Passamos pelo povoado de Matekete. Não havia ninguém lá exceto dois soldados que nos disseram que seria seguro seguirmos adiante. Um pouco depois, vi cerca de dez sujeitos pulando de um barranco ao lado da estrada e disparando. Kurt foi atingido na cabeça, os carros começaram a arder em chamas e estavam crivados de balas. Consegui sair pela janela do carro, pulei para dentro do mato fechado e fiquei deitado ali. Os rebeldes chegaram a estar a uns 5 metros de distância, mas não me viram."
Chisholm também conseguira se esconder; ambos estavam feridos e sangravam. Depois que os atiradores partiram, esperaram três horas antes de fugir a pé.
As mortes criaram um clima de maus presságios em Freetown. Ocorreram num momento em que a ONU e as forças britânicas diziam que a campanha contra os rebeldes avançava bem.
Na noite de quinta-feira boatos circulavam dando conta de possíveis ações que seriam lançadas contra estrangeiros por rebeldes infiltrados na capital, para enfatizar o prazo de 13 dias fixado para a soltura de seu líder capturado, Foday Sankoh. Numa iniciativa extremamente incomum, tanto a "Reuters" quanto a "Associated Press" anunciaram a retirada imediata de seus funcionários remanescentes em Serra Leoa.
Kurt Schork, 53, que foi bolsista na Universidade Oxford na mesma época que Bill Clinton, lançou-se tarde na carreira jornalística, tendo se tornado correspondente de guerra aos 40 anos. Seu primeiro grande trabalho foi a cobertura do levante curdo no norte do Iraque, no início da Guerra do Golfo. Mais tarde, cobriu o conflito nos Bálcãs e em Timor Leste.
Gil Moreno, 32, já trabalhara em Sarajevo, Kosovo e Tchetchênia.
Os dois jornalistas foram homenageados por vários estadistas, incluindo o presidente dos EUA. "Conheci esse jornalista mais de 30 anos atrás, quando estudamos juntos em Oxford, e estou muito triste hoje", disse Clinton. "Ele era um homem bom e, a julgar pelos muitos trabalhos que empreendeu, um homem de coragem."


Texto Anterior: Empresa investiga casos para prefeitura
Próximo Texto: Reino Unido: Irlanda do Norte retoma processo de paz
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.