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MULTIMÍDIA
The Independent - de Londres
Serra Leoa vira ameaça a correspondentes de guerra
KIM SENGUPTA
EM FREETOWN
Por volta das 12h50 da quarta-feira passada, Kurt Schork, Miguel Gil Moreno, Mark Chisholm
e Yannis Behrakis partiram em
dois táxis em direção ao entroncamento Rogberri. O lugar faz
parte da "ferradura" estratégica
que controla os caminhos pelos
quais se chega a Freetown, a capital de Serra Leoa.
Os quatro jornalistas ocidentais
estavam cientes dos riscos envolvidos. Mas acharam que as forças
do governo exerciam controle suficiente sobre a área.
Em Rogberri, um oficial do
Exército de Serra Leoa (ESL) lhes
pediu uma carona para ele e seus
homens. Os jornalistas costumam
receber pedidos de carona do
ESL. Uma recusa pode gerar um
clima negativo e, ao mesmo tempo, o fato de andar na companhia
de soldados os ajuda a abrir caminho pelos postos de controle.
Os dois carros partiram. O primeiro era dirigido por Kurt
Schork, veterano correspondente
de guerra da agência de notícias
"Reuters", e levava os fotógrafos
Mark Chisholm e Yannis Behrakis, o oficial do ESL e dois soldados. O cinegrafista premiado da
"Associated Press" Miguel Gil
Moreno dirigia o segundo.
Behrakis relatou o drama da
emboscada. "Passamos pelo povoado de Matekete. Não havia
ninguém lá exceto dois soldados
que nos disseram que seria seguro
seguirmos adiante. Um pouco depois, vi cerca de dez sujeitos pulando de um barranco ao lado da
estrada e disparando. Kurt foi
atingido na cabeça, os carros começaram a arder em chamas e estavam crivados de balas. Consegui sair pela janela do carro, pulei
para dentro do mato fechado e fiquei deitado ali. Os rebeldes chegaram a estar a uns 5 metros de
distância, mas não me viram."
Chisholm também conseguira
se esconder; ambos estavam feridos e sangravam. Depois que os
atiradores partiram, esperaram
três horas antes de fugir a pé.
As mortes criaram um clima de
maus presságios em Freetown.
Ocorreram num momento em
que a ONU e as forças britânicas
diziam que a campanha contra os
rebeldes avançava bem.
Na noite de quinta-feira boatos
circulavam dando conta de possíveis ações que seriam lançadas
contra estrangeiros por rebeldes
infiltrados na capital, para enfatizar o prazo de 13 dias fixado para
a soltura de seu líder capturado,
Foday Sankoh. Numa iniciativa
extremamente incomum, tanto a
"Reuters" quanto a "Associated
Press" anunciaram a retirada
imediata de seus funcionários remanescentes em Serra Leoa.
Kurt Schork, 53, que foi bolsista
na Universidade Oxford na mesma época que Bill Clinton, lançou-se tarde na carreira jornalística, tendo se tornado correspondente de guerra aos 40 anos. Seu
primeiro grande trabalho foi a cobertura do levante curdo no norte
do Iraque, no início da Guerra do
Golfo. Mais tarde, cobriu o conflito nos Bálcãs e em Timor Leste.
Gil Moreno, 32, já trabalhara em
Sarajevo, Kosovo e Tchetchênia.
Os dois jornalistas foram homenageados por vários estadistas,
incluindo o presidente dos EUA.
"Conheci esse jornalista mais de
30 anos atrás, quando estudamos
juntos em Oxford, e estou muito
triste hoje", disse Clinton. "Ele era
um homem bom e, a julgar pelos
muitos trabalhos que empreendeu, um homem de coragem."
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