São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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REFERENDO
Choque de facções aumenta antes de votação da indepêndencia; líder separatista será libertado em setembro
Violência cresce e 3 morrem em Timor

France Presse
Timorense pró-autonomia é esfaqueado até a morte por separatistas


das agências internacionais

Às vésperas do plebiscito que decidirá a situação da região de Timor Leste em relação à Indonésia, choques entre milícias antiindependência e grupos separatistas deixaram ao menos três mortos ontem. Versões não confirmadas dão número maior.
O governo indonésio disse que libertará, em 15 de setembro, o líder pró-independência Xanana Gusmão, que está em prisão domiciliar em Jacarta.
A violência de ontem começou depois que cerca de 15 mil pessoas assistiram a um ato contra a independência em um ginásio de esportes local. Na saída, ativistas pela independência jogaram pedras contra os participantes da manifestação pró-Indonésia.
Milicianos responderam às pedras com armas de fogo e bombas, matando duas pessoas. Uma pessoa teria sido morta pela polícia indonésia, que tentava controlar o conflito entre as facções.
Gusmão é cotado para ser presidente se Timor Leste -colônia portuguesa até 1975 e anexada pela Indonésia em 1976- não aceitar a autonomia proposta pelo governo de Jacarta.
Segunda-feira, a população (de aproximadamente 800 mil) decidirá seu futuro político. Cerca de 450 mil timorenses se registraram para participar da votação, patrocinada pela ONU. Se vencer a recusa da autonomia, o presidente indonésio, B.J. Habibie, concederá independência ao território.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu ao governo indonésio que restabeleça a ordem no território para que a votação possa acontecer em "clima de normalidade". Ele quer que a polícia prenda os responsáveis pelas mortes de ontem.
Em uma declaração oficial, Annan lembrou às autoridades indonésias suas obrigações pelo acordo do dia 5 de maio entre Jacarta, Lisboa e a ONU. O acordo acertou os preparativos para o referendo.
Portugal toma parte ativa nas negociações por ter colonizado Timor Leste, onde se fala português. A língua, que chegou a ser proibida pela Indonésia, é uma forma de resistência à ocupação.
"É crucial que, mesmo neste último estágio, passos concretos sejam tomados para controlar as milícias que querem tumultuar a consulta popular", disse Annan.
De acordo com os EUA, a Indonésia precisa tomar "medidas urgentes" para pôr fim à violência.
Timor Leste ocupa 14.874 km2 -cerca de dez vezes o território da cidade de São Paulo- dentro dos 1,9 milhão de km2 da Indonésia -cerca de três vezes a Bahia.
A população de Timor Leste é 88% praticante da religião católica. A Indonésia é o maior país muçulmano do mundo, com mais de 206 milhões de habitantes (89% deles seguem o islamismo).


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