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CRISE
Presidente da constituinte diz que vai impedir congressistas de realizar sessão extraordinária hoje
Assembléia faz novo desafio à oposição
ELIANE CANTANHÊDE
enviada especial a Caracas
O presidente da ANC (Assembléia Nacional Constituinte), Luis
Miquelena, 83, afirmou ontem à
Folha que não permitirá que o
Congresso realize sessão extraordinária hoje para questionar o excesso de poderes da constituinte.
"Aqui eles não entrarão", disse
Miquelena sobre a insistência de
os partidos de oposição, Copei
(democrata-cristão) e Ação Democrática (social-democrata), de
interromper hoje o recesso auto-imposto do Congresso.
"Tomaremos todas as medidas
necessárias para impedir a sessão", adiantou ele. Na opinião dele, a constituinte é soberana e
qualquer tentativa do Congresso
de julgar seus atos é "absolutamente intolerável".
Miquelena é uma espécie de
eminência parda do regime do
presidente Hugo Chávez.
Leia os principais trechos da
entrevista.
Folha - Como a constituinte vai reagir amanhã
(hoje) se o
Congresso insistir em fazer
uma sessão
extraordinária?
Luis Miquelena - Eles não podem fazer isso. O direito a sessões
foi modificado por uma decisão
da ANC, que é soberana para decidir isto. Se eles tentarem, não terão acesso aos locais, aos plenários. Aqui eles não entrarão.
Precisam entender que nossa
intenção é ter uma convivência
pacífica com os Poderes constitucionais, mas defenderemos primeiro a soberania da ANC.
Folha - O sr. vai convocar a polícia, a população?
Miquelena - Não será necessário. Não se preocupe. Temos quadros suficientes aqui na ANC.
Folha - A ANC e o Congresso
estão tentando negociar?
Miquelena - O diálogo estava
ocorrendo. Por isso, surpreendeu-nos o anúncio de que eles
tentariam fazer uma sessão extraordinária. Achei acintoso.
As decisões da ANC são apoiadas em acordos anteriores. A convocação de uma sessão extraordinária para julgar agora os atos da
constituinte é uma circunstância
absolutamente intolerável.
Folha - A renúncia da presidente da Corte Suprema, Cecilia
Sosa, precipitou o confronto da
ANC com o Congresso?
Miquelena - Se dá à atitude dela
uma importância que na verdade
não tem. A Corte continua funcionando, com todo respeito à
sua autoridade por parte da ANC.
O mandato dessa senhora já estava vencendo, ela já estava mesmo sendo substituída. Ela apenas
se antecipou aos fatos naturais.
Folha - No Brasil, é difícil entender como a ANC fala em democracia e ao mesmo intervém
no Congresso e no Judiciário.
Como o sr. justifica isso?
Miquelena -Estamos numa situação de crise, tanto na Justiça
quanto no Congresso, com um
grau altíssimo de corrupção. Toda a população reclamava corretivos. É isso que estamos fazendo.
Folha - Como o sr. responde à
acusação da oposição de que a
intervenção da ANC nos Poderes é um golpe de Estado?
Miquelena -Rejeitamos cabalmente. Todas as medidas estão
dentro do Estado de Direito, respeitando, sim, a independência
dos demais Poderes.
Só os delitos e os delinquentes
serão atingidos. As medidas para
afastá-los, eliminá-los, serão contra aqueles que têm expedientes
seguros que comprovam graves,
conhecidas e reiteradas acusações. Em todos os casos, serão
substituídos por seus suplentes.
Folha - Na "Regulação das
Funções do
Poder Legislativo", de anteontem, a
ANC avoca a si
o direito, que
era do Congresso, de
destituir governadores.
As punições às
quais o sr. se
referiu valem
para eles?
Miquelena - Não. Estou falando, agora, exclusivamente do Poder Judiciário, dos delitos do Poder Judiciário. E ontem (quarta),
tomou-se também as medidas cabíveis no Poder Legislativo, porque houve uma tentativa de questionar o poder da ANC.
Folha - Uma constituinte é
criada para fazer uma nova
constituição ou para assumir o
poder, como na Venezuela?
Miquelena - Há uma diferença
entre Assembléia Constitucional,
que pode estritamente redigir
uma nova Carta Magna, e constituinte, que tem poderes mais amplos. Este é o caso da Venezuela.
O artigo 1� trata do "caráter originário" da Constituinte, para
reestruturar os Poderes e introduzir as mudanças necessárias ao
bom funcionamento das instituições. Além da tarefa central de escrever a nova Carta.
Folha - Se a economia fugir totalmente ao controle, o governo
e a ANC vão poder sustentar todo esse poder de agora?
Miquelena - O governo Hugo
Chávez tem tomado medidas importantíssimas na área da economia, para garantir estabilidade,
gerar empregos, atrair investimentos. Mas, infelizmente, ninguém vê. Todos preferem ver apenas as dificuldades políticas.
Folha - A crise política interfere na crise econômica e vice-versa. Quais são as chances de
dar certo?
Miquelena - O problema é que
temos inimigos que tentam colocar obstáculos. Temos sempre
que estar sempre como um cavalo
fogoso, trotando, soltando todos
esses obstáculos. E vamos vencer.
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