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EUROPA
Brecha fiscal que permite que estrangeiros paguem menos impostos no Reino Unido do que em outros países atrai bilionários
Oligarcas russos gastam bilhões em Londres
MAXINE FRITH
DO "INDEPENDENT"
Eles não pensam duas vezes antes de gastar 40 milhões de libras
(R$ 154,5 milhões) numa casa ou
250 mil libras num fim de semana
-e o Reino Unido é onde querem fazê-lo.
A Rússia tem estimados 33 bilionários e 88 mil milionários (em
dólares). Muitos vêem Londres
como sua cidade tanto que, no
grupinho seleto, a capital britânica é conhecida como Moscou 2.
Atraídos pela distância pequena
(apenas três horas de vôo entre
Londres e Moscou), pelas normas
tributárias relativamente tolerantes e pelas lojas caras, oligarcas e
suas famílias andam seguindo o
exemplo do dono do clube de futebol Chelsea, Roman Abramovich, e mudando para Londres.
Por causa da crescente população russa de Londres, a revista
"Forbes" apelidou a capital britânica de "Londongrado".
São estimados em 300 mil os
russos que vivem no Reino Unido, e, embora nem todos possuam a fortuna de Abramovich,
uma parte substancial tem dinheiro para ostentar livremente.
A influência dos oligarcas russos é tão grande no país que a
criadora de jóias Theo Fennell
atribuiu a alta em seus lucros ao
aumento de sua base de clientes
russos. As vendas subiram 4,5%
nos últimos seis meses, numa
época em que outras lojas passam
por dificuldades. Os clientes competem para comprar crucifixos
grandes, pendentes em forma de
coração e objetos de prata que, segundo uma representante da casa, variam de preço "entre mil libras e quantos mais zeros você
quiser acrescentar".
A diretora de produtos da Theo
Fennell, Justine Carmody, explicou: "Nossa ênfase é no design,
mais do que simplesmente em
produzir anéis de diamantes em
grande quantidade, e os russos
têm muito discernimento no que
diz respeito ao design".
Em razão do número cada vez
maior de oligarcas que a visitam e
gastam muito em seus vários andares, a loja de departamentos de
luxo Harvey Nichols passou a empregar balconistas que falam russo. O gerente de marketing da
empresa, Richard Gray, ponderou: "Os russos são para esta década o que os japoneses foram para os anos 1990 e os árabes para a
década anterior. Eles têm muito
dinheiro e estão dispostos a gastá-lo, mas têm muito bom gosto e
costumam explicar especificamente o que querem".
Não são apenas os andares de
moda da loja que se beneficiaram.
O quinto andar, dedicado à alimentação, teve de dobrar seus pedidos de caviar beluga do mar
Cáspio (o mais caro do mundo: 50
gramas custam 146 libras) para
satisfazer a demanda de clientes.
O mercado imobiliário britânico também anda recebendo uma
injeção de ânimo em razão das
vendas a clientes russos. Abramovich, em junho, comprou uma
mansão de cinco andares, em estilo georgiano, no bairro de Belgravia, por 11 milhões de libras. O
também oligarca Leonard Blavatnik abocanhou uma residência
em Kensington Palace Gardens
por 41 milhões de libras.
Corretores imobiliários estimam que os russos componham
um terço dos compradores dos
imóveis de milhões de libras na
região londrina. Jonathan Hewlett, diretor de vendas da filial da
imobiliária Savills comentou: "De
início, Hampstead era uma região
muito procurada, mas, recentemente, os russos vêm se mudando para partes mais centrais de
Londres. Eles gostam de cômodos
grandes e espaços grandiosos,
além de estilos contemporâneos".
A empresa Red Square Projects
foi aberta em Londres dois anos
atrás para atender aos caprichos
de russos abastados. Após uma
conferência de empresários russos em Londres, em abril, um grupo de delegados pagou por um
jantar suntuoso acompanhado de
champanhe envelhecido Dom Perignon e garrafas de conhaque de
300 libras cada. Além disso, pagou para Liza Minnelli vir cantar
para eles durante uma hora. O
custo do jantar e do entretenimento não foi divulgado, mas, segundo fontes informadas, a conta
final deve ter chegado a algo em
torno de 500 mil libras esterlinas.
Uma representante da Red
Square Projects comentou: "A
imigração vinda da Rússia se deu
em três ondas".
"No início do século 20, as pessoas fugiram da revolução e foram a Paris, que se tornou o destino mais comum dos russos que
deixavam seu país por razões políticas. Na década de 1970, um número enorme de russos emigrou
para Israel e os Estados Unidos
para escapar do comunismo.
Agora o Reino Unido é o lugar favorito. Os russos gostam das lojas,
da cultura, das escolas particulares e das residências britânicas."
Ela acrescentou: "Além disso,
Londres fica a apenas três horas
de distância de Moscou de avião.
As pessoas podem morar aqui,
mas voltar à Rússia para ir a festas
e ver seus familiares e amigos".
A proximidade entre Londres e
Moscou propiciou o surgimento
dos chamados "voskresnuy
muzh", ou "maridos de domingo". São homens que trabalham
em Moscou, mas, às sextas-feiras,
pegam um avião para Londres,
onde estão sua casa e sua família,
voltando a Moscou no domingo à
noite para poder estar no escritório na manhã de segunda-feira.
Outra razão do caso de amor recente da Rússia com o Reino Unido é que este pode funcionar como paraíso fiscal bastante eficaz.
Enquanto outros países europeus
exigem que seus residentes estrangeiros paguem impostos com
base em sua renda e seus ganhos
de capital em todo o mundo, no
Reino Unido existe uma brecha
que permite que as pessoas criem
contas no exterior de maneira a
evitar a obrigação de pagar esses
impostos. Isso significa que os oligarcas podem vender suas ações
valiosas em indústrias russas e
usar o dinheiro para comprar
uma casa no Reino Unido sem pagar impostos sobre o lucro.
Entre 1998 e 2004, mais de US$
100 bilhões saíram da Rússia, de
acordo com a revista "Forbes".
Uma parte substancial desse dinheiro agora está sendo gasto nas
butiques e nas imobiliárias do
Reino Unido.
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