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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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HOLLYWOOD

Filme ainda inédito sobre Paixão de Cristo estimularia ódio a judeus, diz entidade americana; cineasta nega

Mel Gibson é acusado de anti-semitismo

DA REDAÇÃO

O cineasta Mel Gibson foi publicamente alertado anteontem por uma entidade norte-americana de combate ao ódio religioso e racial que o roteiro de seu filme "The Passion" (a Paixão), ainda inédito e que narra as últimas horas da vida de Jesus Cristo, "está repleto de informações contestáveis", que podem insuflar o ódio aos judeus. Gibson nega.
O filme foi rodado na Itália no início do ano e seus diálogos estão em latim e aramaico.
A entidade, a ADL (Liga Anti-Difamação, na sigla em inglês), submeteu em abril a versão inicial do roteiro a um grupo de teólogos e especialistas. Faziam parte do grupo representantes da Conferência dos Bispos dos EUA.
O parecer final, ao qual os católicos não subscreveram, sob o argumento de que preferem assistir ao filme antes de se manifestar, afirma que a obra é calcada numa visão ultrapassada e preconceituosa do texto bíblico.
Por essa visão, os judeus foram responsáveis pelo deicídio (assassinato de Jesus). Ela não leva em conta a repressão do Império Romano a lideranças carismáticas da Palestina e tampouco o fato de, no momento da crucificação de Jesus, os cristãos não existirem ainda como comunidade organizada. Integravam culturalmente o judaísmo, do qual se originaram.
O episódio da Paixão de Cristo é visto modernamente com esse enfoque por algumas igrejas evangélicas e protestantes. Também essa é a visão do Vaticano.
Associar a crucificação de Jesus a um crime dos judeus, diz a ADL, levou no passado ao recrudescimento cíclico do anti-semitismo.
Gibson, que é católico fervoroso, já publicara, havia dias, uma nota na qual disse que seu filme não possui mensagem anti-semita. Questionado em entrevista recente se seu filme poderá irritar os judeus, ele respondeu: "Pode ser. O objetivo não é esse. O objetivo é apenas contar a verdade".
Para a ADL, no entanto, o cineasta deveria seguir o exemplo da TV CBS, que a consultou antes de editar a versão final da recente minissérie sobre Adolf Hitler.
O cineasta, prossegue a entidade, deveria completar a perspectiva cinematográfica que tem do episódio histórico com o conhecimento de o quanto as simplificações se traduziram, no passado, por ondas de anti-semitismo.
A entidade afirma por fim que, tal como previsto no roteiro, os judeus apareceriam "como sedentos de sangue, sádicos, avaros e inimigos de Jesus".


Com agências internacionais


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