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ANÁLISE
As lições de 1956 para a Europa
DO "INDEPENDENT"
Cinquenta anos se passaram,
e duas gerações e meia já cresceram sem a memória da revolta húngara de 1956. No entanto,
a rebelião permanece como um
dos capítulos emblemáticos da
Guerra Fria -um desafio heróico ao domínio soviético, um
gesto cujo fracasso selou a divisão da Europa por outros 30
anos e expôs cruelmente os limites do poder ocidental.
A recusa do espírito humano
em tolerar a tirania talvez seja a
lição mais enaltecedora a ser tirada do levante húngaro. Mas,
quando se conta com o benefício da visão retrospectiva, percebe-se que existem várias outras também.
Para começar, as revoltas que
abalaram o império soviético se
originaram nos próprios países
envolvidos -não foram fomentadas desde fora deles. Quando
o Muro de Berlim foi derrubado, a democracia já estava presente nos países da Europa do
leste e central.
A segunda lição é que, embora a rebelião húngara tenha tido raízes nativas, uma das causas de seu fracasso foi a falta de
apoio ocidental. Ou o Leste ou o
Ocidente teriam que fraquejar,
e foi o Ocidente quem o fez primeiro. Houve palavras de incentivo aos húngaros e a seus
ideais, mas não se viu nenhuma
disposição em infringir o acordo fechado em Yalta.
Quanto ao Reino Unido e à
França, estavam ocupados com
outro problema: a aventura desesperada à qual hoje se faz referência com uma palavra só,
"Suez" [a ofensiva franco-britânica que tentou retomar o controle do canal, nacionalizado
pelo egípcio Gamal Abdel Nasser].
Está claro hoje que o mundo
colonial do qual Reino Unido e
França não queriam -em vão-
se desfazer já era coisa do passado, enquanto o futuro estava
numa Europa não dividida.
A quarta lição é que, embora
uma força militar não seja capaz de conquistar corações e
mentes, ela pode, infelizmente,
subjugar com bastante eficácia.
Foi apenas quando a União Soviética se encontrava em fase
de decadência terminal, com
um líder novo que se mostrou
avesso a derrubar sangue para
preservar seu império, que a liberdade finalmente se tornou
alcançável. Pelo fato de ter
aberto unilateralmente sua
fronteira com o Ocidente, a
Hungria foi a primeira a alcançar essa liberdade.
Há uma quinta lição -quase
uma nota de rodapé- que diz
respeito a migração e compaixão. Depois do fracasso da rebelião, cerca de 200 mil húngaros encontraram refúgio fora
de seu país, muitos deles nos
EUA e no Reino Unido. Lhes
demos as boas-vindas com
consciência um pouco pesada,
e eles têm sido motivo de orgulho para seus países de adoção.
Meio século atrás, teria sido
inconcebível que a Hungria hoje fizesse parte de uma União
Européia de 25 países, uma Europa quase sem fronteiras. E a
rapidez com que a Cortina de
Ferro se abriu deve deixar à
sombra qualquer dificuldade
que possam estar enfrentando
a Hungria ou qualquer outro
país recém-chegado à UE.
Mas foi irônico o fato de que
ontem, enquanto começavam
as comemorações oficiais da
rebelião, houve confrontos entre a polícia e uma nova geração
de manifestantes perto do prédio do Parlamento em Budapeste. Os manifestantes gritavam sua fúria contra o governo
de Ferenc Gyurcsany, que foi líder da Juventude Comunista
no passado. As cenas não foram
bonitas, mas não se tratava da
história se repetindo. Em 1956,
a Hungria sofreu uma tragédia
nacional; hoje, 50 anos depois,
as manifestações não passam
de dores do crescimento da democracia.
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN
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