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RELIGIÃO
Para vaticanista, o encontro "dirá que o cristão não pode compartimentar os seus valores" dentro e fora da igreja
Sínodo estabelece prioridades para a Igreja Católica
FÁBIO CHIOSSI
DA REDAÇÃO
O sínodo que termina hoje, no
Vaticano, com uma missa celebrada pelo papa Bento 16, estabelece uma nova agenda de questões
a serem consideradas pela Igreja
Católica nos próximos anos. É isso o que diz o vaticanista norte-americano John Allen Jr., autor
do livro "Conclave" (Record).
Levando em consideração que o
sínodo é um corpo consultivo, cujas proposições finais foram resumidas em um documento para
ser entregue ao papa e do qual ele
fará o que quiser, Allen Jr. lembra
que a principal função dessa reunião de bispos e outros clérigos
não é propor soluções para os
eventuais problemas que a Igreja
Católica deve enfrentar, mas definir os problemas significantes.
"O que o sínodo fez, por exemplo, foi colocar na agenda da Igreja Católica questões como a escassez de padres e a discussão sobre o
ordenamento de homens casados", diz Allen Jr. acerca de um
problema levantado no sínodo.
Esses assuntos são "reconhecidos
agora como problemas urgentes a
serem enfrentados com novas
idéias. O sínodo não oferece as soluções, mas convida a igreja a
pensar sobre os problemas".
O secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, lembra que o sínodo é um organismo de "co-responsabilidade
pela vida e pela missão da igreja",
o que reforça a função da assembléia destacada por Allen Jr.
Sobre um problema específico
que a Igreja Católica tem enfrentado, os escândalos de abusos sexuais que têm sido revelados nos
EUA, John Allen Jr. disse que, até
onde sabe, eles não foram discutidos "nem nos documentos oficiais, nem nos grupos de discussão" do sínodo. Isso em boa medida porque, diz ele, o assunto
não está relacionado diretamente
ao tema do sínodo, a Eucaristia. E
é o tema que define o enfoque
principal das discussões que tiveram lugar no Vaticano nestas três
semanas -a reunião começou
no último dia 2-, protagonizadas por mais de 250 clérigos, em
sua maioria bispos e arcebispos.
Ações sociais
"O cerne da discussão foi como
comunicar os ensinamentos da
igreja sobre Eucaristia ao mundo
moderno", diz Allen Jr. "O tema
principal das discussões provavelmente foi como tornar esse ensinamento compreensível e relevante", diz, acrescentando que a
intenção dos bispos é, conseqüentemente, tornar a Comunhão
"não só uma prática vazia de significado exercida aos domingos,
mas algo que inspire os cristãos a
tentar transformar o mundo
-por exemplo, a ligação entre
Eucaristia e ações sociais".
Considerando que a fronteira
entre ações sociais e ações políticas não é algo que se estabelece facilmente, Allen Jr. afirma que um
dos desafios da igreja é criar um
equilíbrio na prática cristã, tentando fazer com que "os fiéis estejam atentos para as questões sociais, mas sem que imponham soluções políticas, que estão fora da
competência da igreja".
Explicando que esse é um assunto geralmente levantado pelos
bispos dos países "em desenvolvimento", entre eles o Brasil, o vaticanista americano completa afirmando que "há um entendimento de que os cristãos não podem
ser indiferentes às mazelas sociais, mas, ao mesmo tempo, há
um entendimento de que a igreja
não é um partido político. Basicamente, eu creio que o sínodo dirá
que o cristão não pode compartimentar seus valores; ele não pode
dizer "eu tenho tais valores na
igreja e tais outros fora dela'".
O que contou à Folha dom Odilo Scherer -que, ao contrário do
presidente da CNBB, dom Geraldo Majella, não participou do sínodo- sobre as discussões levadas pelos quatro representantes
brasileiros ao sínodo vai ao encontro do que disse o vaticanista
americano. "As preocupações
com a vida social, econômica e
política do país não deixam de ser
relacionadas com a celebração da
Eucaristia, de maneira que dela os
católicos possam tirar forças para
a vivência cristã no meio e na sociedade", disse dom Odilo.
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