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Editor critica Miller em e-mail a jornalistas
DA REDAÇÃO
O editor-executivo do "New
York Times", Bill Keller, enviou à
equipe do jornal um extenso e-mail na noite da última sexta-feira
sobre o caso Judith Miller, a repórter envolvida no vazamento
do nome de uma espiã cujo marido denunciou como falsas acusações do governo Bush contra o
Iraque. O texto traz críticas à jornalista, aponta falhas da publicação e faz um mea culpa sobre os
recentes escândalos que colocaram o "Times" na linha de fogo
dos críticos.
No e-mail, Keller também lamenta que não tenha agido de
maneira mais clara e incisiva na
admissão de erros do jornal sobre
a inexistência de armas de destruição em massa no Iraque.
"Além de algumas ocasiões em
que eu gostaria de ter escolhido
minhas palavras com mais cuidado, levantamos alguns pontos
diante dos quais gostaríamos de
ter tomado decisões diferentes",
escreve. "São casos que, vistos
com a clareza possibilitada pela
distância, mostram erros dos
quais podemos tirar lições."
"Eu não sabia que Judy era uma
das repórteres na ponta receptora
da campanha de rumores contra
[a espiã Valerie] Plame", admite,
dizendo que só tomou conhecimento do fato quando a jornalista
foi intimada a depor. "Gostaria
que, ao saber que Judy Miller havia sido intimada como testemunha, eu tivesse me sentado com
ela, feito uma extensa entrevista
sobre o que ela sabia do caso e
prosseguido com minha própria
apuração", desculpa-se.
"Em outros casos poderia estar
correto confiar aos advogados o
teor das entrevistas e anotações
em questão. Mas, nesse caso, eu
não prestei atenção no que deveria ser um alarme óbvio", continua Keller.
O editor-executivo afirmou que
o jornal provavelmente teria defendido sua repórter em qualquer
situação, já que "é um instinto natural e apropriado defender um
repórter quando o governo tenta
interferir em seu trabalho". "Mas,
se eu soubesse dos detalhes do envolvimento de Judy com [Lewis]
Libby [assessor do vice-presidente Dick Cheney], eu teria tomado
mais cuidado no modo como o
jornal articulou sua defesa."
Numa crítica direta a Miller, Keller cita um e-mail que recebeu de
um de seus colegas como o que teria sido o modo ideal de lidar com
o caso: "Há, ou deveria haver, um
contrato entre o jornal e seus repórteres pelo qual o jornal os
apóia institucionalmente, mas só
até o momento em que o o repórter cumpre a sua parte, especificamente ao manter-se dentro de um
padrão legal, ético e jornalístico
consistente, sendo aberto com o
jornal sobre suas fontes, erros,
conflitos e similares, e que faça
por merecer todos nós arriscarmos nossa reputação".
O editor encerra colocando em
questão o modo como o jornal lida com notícias a seu próprio respeito e indagando o quanto isso
pode ferir o interesse do leitor.
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