São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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ASPECTO MILITAR Exército russo adota tática da Otan

FÁBIO ZANINI
de Londres
As forças russas que combatem na Tchetchênia estão adotando uma tática bastante semelhante à usada pela Otan durante os bombardeios à Iugoslávia na guerra de Kosovo no primeiro semestre.
Tirando o máximo proveito de sua superioridade bélica, os russos estão evitando "entrar no jogo" dos tchetchenos, especialistas em táticas de guerrilha e exímios conhecedores do território.
O resultado é um número pequeno de baixas russas.
O cenário bem diferente do conflito de 94 a 96, em que os russos, prevendo uma vitória fácil, perderam milhares de soldados.
"Os russos aprenderam com seus erros", afirma Neil MacFarlane, professor da Universidade de Oxford e autor de livros sobre a região do Cáucaso, onde se localiza a Tchetchênia.
Os russos, que reúnem entre 80 mil e 100 mil homens na região, agora avançam lentamente pelas estepes ao norte e noroeste de Grozni e pelo leste, na região de Gudérmes, segunda cidade da República, já ocupada pela Rússia.
"Tenho dúvidas da disposição dos russos de entrarem com tropas em Grozni. O número de mortes nos dois lados poderia se multiplicar", diz MacFarlane.
Para Dominic Lienen, estudioso de Rússia da London School of Economics, os russos estão apostando nas divisões internas dos tchetchenos.
"Um erro é achar que a população da tchetchena segue um único comando. Há de moderados a fundamentalistas islâmicos", diz.
Lienen opina que o real interesse dos russos é debilitar ao máximo a moral dos tchetchenos, cooptar parte deles e instalar um governo moderado, pró-Moscou, na Tchetchênia.
"Chegará um momento que o Exército russo terá de tomar a difícil decisão de avançar ou negociar com os rebeldes", acredita.
"Os rebeldes não vão entrar em confronto em campo aberto", acredita Anatol Lieven, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos e autor de um livro sobre o conflito tchetcheno.
Ele não concorda com a tese de que os rebeldes teriam sido pegos de surpresa. "A concentração de tropas russas na região foi feita ao longo de semanas. É ingênuo achar que os rebeldes não soubessem, com alguma antecedência, que haveria uma ofensiva".


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