São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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POLÍTICA RUSSA
Conflito na Tchetchênia eleva popularidade do premiê, que tem apoio de Ieltsin para sucedê-lo em 2000
Guerra faz Putin sonhar com Presidência

PATRICK LANNIN
da "Reuters", em Moscou

A guerra vem sendo boa para Vladimir Putin. Cem dias atrás, Putin era um ex-oficial da KGB que não chamava a atenção de ninguém. Na quinta-feira, porém, um jornal moscovita comparou o primeiro-ministro russo, por seu papel à frente da guerra contra os rebeldes tchetchenos, aos personagens durões representados no cinema pelo ator Bruce Willis.
A comparação se deve ao desempenho de Putin nos cem dias passados desde sua indicação pelo presidente Boris Ieltsin.
Mesmo o apoio de Ieltsin, normalmente um golpe mortal para qualquer político, não impediu Putin de subir vertiginosamente nas pesquisas de opinião.
Ele tem o apoio de 27% dos eleitores para o primeiro turno do pleito presidencial de 2000, segundo a Agência de Pesquisa Política Regional. Em agosto, quando foi nomeado, tinha apenas 1% das intenções de voto.
Em segundo lugar na pesquisa está o ex-premiê Ievguêni Primakov, com 11%, tecnicamente empatado com o neocomunista Guennadi Ziuganov (10%).
A popularidade de Putin está ligada à guerra na Tchetchênia. Embora a ofensiva russa seja criticada no exterior, é amplamente aprovada na Rússia.
"Putin está ganhando pontos rapidamente, tornando-se não apenas um dos candidatos à Presidência, mas aquele que tem mais chances de ganhar", disse o jornal "Komsomolskaia Pravda".
Ieltsin quer que Putin vença a eleição presidencial e o substitua. O aumento de popularidade se manifesta no momento em que se aproxima a eleição parlamentar, marcada para 19 de dezembro. Putin não é candidato, mas os resultados desse pleito vão indicar como estão as forças políticas que atuam no cenário russo.
Enquanto os antecessores de Putin se atolaram nos esforços para obter mais empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional) e lidar com uma economia mergulhada em crise, Putin vem pilotando caças perto da zona de guerra no norte do Cáucaso e jurando esmagar os combatentes qualificados pela Rússia como "terroristas" e "bandidos".
Com a aproximação da eleição para a Duma (a câmara baixa do Parlamento), os partidos políticos vêm procurando associar seus nomes ao do primeiro-ministro.
Primakov descreveu Putin como político "de valor", e virtualmente ninguém ousa criticá-lo enquanto a guerra na Tchetchênia se mantém forte. Mas, embora suas perspectivas atuais estejam cor-de-rosa, um revés na Tchetchênia prejudicaria o premiê.
Ninguém na Rússia quer ver repetir-se a guerra de 1994-96 contra os separatistas, na qual cerca de 40 mil pessoas morreram.
A atitude de Ieltsin e das figuras do Kremlin que o cercam, conhecidas coletivamente como "a família", também será crucial. A mídia russa vem afirmando que a "família" não aprova Putin e quer vê-lo fora do governo.
A economia russa também passa por uma fase favorável, beneficiada pelos altos preços do petróleo, um dos principais produtos de exportação do país, e de uma alta maior do que a esperada resultante da desvalorização do rublo efetuada no ano passado. E os planos econômicos de Putin são tão indefinidos quanto é inequívoca sua política na Tchetchênia.
Segundo Roland Nash, economista da empresa Renaissance Capital, "Putin vem conseguindo, por omissão, seguir as políticas traçadas por Stepashin e Primakov (ex-premiês). A grande dúvida é até que ponto essa situação poderá ser sustentada."


Tradução de Clara Allain


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