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POLÍTICA RUSSA
Conflito na Tchetchênia eleva popularidade do premiê, que tem apoio de Ieltsin para sucedê-lo em 2000
Guerra faz Putin sonhar com Presidência
PATRICK LANNIN
da "Reuters", em Moscou
A guerra vem sendo boa para
Vladimir Putin. Cem dias atrás,
Putin era um ex-oficial da KGB
que não chamava a atenção de
ninguém. Na quinta-feira, porém,
um jornal moscovita comparou o
primeiro-ministro russo, por seu
papel à frente da guerra contra os
rebeldes tchetchenos, aos personagens durões representados no
cinema pelo ator Bruce Willis.
A comparação se deve ao desempenho de Putin nos cem dias
passados desde sua indicação pelo presidente Boris Ieltsin.
Mesmo o apoio de Ieltsin, normalmente um golpe mortal para
qualquer político, não impediu
Putin de subir vertiginosamente
nas pesquisas de opinião.
Ele tem o apoio de 27% dos eleitores para o primeiro turno do
pleito presidencial de 2000, segundo a Agência de Pesquisa Política Regional. Em agosto, quando foi nomeado, tinha apenas 1%
das intenções de voto.
Em segundo lugar na pesquisa
está o ex-premiê Ievguêni Primakov, com 11%, tecnicamente empatado com o neocomunista
Guennadi Ziuganov (10%).
A popularidade de Putin está ligada à guerra na Tchetchênia.
Embora a ofensiva russa seja criticada no exterior, é amplamente
aprovada na Rússia.
"Putin está ganhando pontos
rapidamente, tornando-se não
apenas um dos candidatos à Presidência, mas aquele que tem
mais chances de ganhar", disse o
jornal "Komsomolskaia Pravda".
Ieltsin quer que Putin vença a
eleição presidencial e o substitua.
O aumento de popularidade se
manifesta no momento em que se
aproxima a eleição parlamentar,
marcada para 19 de dezembro.
Putin não é candidato, mas os resultados desse pleito vão indicar
como estão as forças políticas que
atuam no cenário russo.
Enquanto os antecessores de
Putin se atolaram nos esforços
para obter mais empréstimos do
FMI (Fundo Monetário Internacional) e lidar com uma economia
mergulhada em crise, Putin vem
pilotando caças perto da zona de
guerra no norte do Cáucaso e jurando esmagar os combatentes
qualificados pela Rússia como
"terroristas" e "bandidos".
Com a aproximação da eleição
para a Duma (a câmara baixa do
Parlamento), os partidos políticos
vêm procurando associar seus
nomes ao do primeiro-ministro.
Primakov descreveu Putin como político "de valor", e virtualmente ninguém ousa criticá-lo
enquanto a guerra na Tchetchênia se mantém forte. Mas, embora
suas perspectivas atuais estejam
cor-de-rosa, um revés na Tchetchênia prejudicaria o premiê.
Ninguém na Rússia quer ver repetir-se a guerra de 1994-96 contra os separatistas, na qual cerca
de 40 mil pessoas morreram.
A atitude de Ieltsin e das figuras
do Kremlin que o cercam, conhecidas coletivamente como "a família", também será crucial. A
mídia russa vem afirmando que a
"família" não aprova Putin e quer
vê-lo fora do governo.
A economia russa também passa por uma fase favorável, beneficiada pelos altos preços do petróleo, um dos principais produtos
de exportação do país, e de uma
alta maior do que a esperada resultante da desvalorização do rublo efetuada no ano passado. E os
planos econômicos de Putin são
tão indefinidos quanto é inequívoca sua política na Tchetchênia.
Segundo Roland Nash, economista da empresa Renaissance
Capital, "Putin vem conseguindo,
por omissão, seguir as políticas
traçadas por Stepashin e Primakov (ex-premiês). A grande dúvida é até que ponto essa situação
poderá ser sustentada."
Tradução de Clara Allain
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