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"MILAGRE DO SANGUE"
Mistura à base de ferro, cálcio, água e sal de cozinha explicaria o mistério de são Genaro
Químicos questionam sangue de santo
JEAN-JACQUES BOZONNET
DO "LE MONDE", EM ROMA
"Dissolva 25 gramas de cloreto
de ferro em cem mililitros de
água, acrescente dez gramas de
carbonato de cálcio. A reação
química fará a solução ficar marrom escura. Passe a solução para
um recipiente de gargalo fino,
acrescente sal de cozinha, agite e
deixe descansar por duas horas."
Essa é a receita sacrílega proposta na internet aos interessados
em reproduzir em casa o sangue
de são Genaro, o santo cujo
1.700� aniversário de morte, por
decapitação, a cidade de Nápoles
comemorou no último dia 19.
O gel, cujo modo de fabricação
figura no site do Comitê Italiano
para o Controle dos Fenômenos
Paranormais (Cicap), se liquefaz
quando é ligeiramente sacudido.
"O processo pode ser reproduzido à vontade", diz o site.
Para a astrofísica Margherita
Hack, do Cicap, não é preciso
procurar mais longe a explicação do suposto "milagre do sangue", pelo qual o sangue seco do
santo fica líquido três vezes por
ano na catedral de Nápoles -no
primeiro domingo de maio, a
cada 19 de setembro e a cada 16
de dezembro -, em um fenômeno descrito pela igreja como
"acontecimento prodigioso".
Refutando o Cicap, um porta-voz do bispado de Nápoles lembrou que a receita funciona instantânea e muito rapidamente.
"Como explicar, então, que o
sangue de São Genaro se liquefaz às vezes instantaneamente,
às vezes após dias e dias de oração, e às vezes não, como em
maio de 1976? É imprevisível."
A liquefação do sangue do santo voltou a acontecer na última
segunda-feira, às 9h52, diante de
uma multidão e das mais altas
personalidades da região. Uma
salva de 21 disparos de canhão
confirmou a notícia, e os políticos tanto de direita quanto de esquerda saudaram "esse sinal de
bom augúrio para a cidade".
Outros fiéis compareceram ao
mosteiro de Pozzuoli, onde são
Genaro foi decapitado. Segundo
a tradição, manchas de sangue
sobre uma pedra seriam vestígios do mártir. Um jovem frade
capuchinho que vive no mosteiro confirmou aos jornalistas:
"As manchas são negras o ano
inteiro, mas ficam vermelhas,
cor de rubi, quando o 19 de setembro se aproxima. É uma coisa extraordinária que já vi com meus próprios olhos".
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