São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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SOCIALISMO REAL

Ditador impediu a presença de parlamentares europeus no primeiro encontro oposicionista em 46 anos de regime

Fidel deixa oposição protestar, mas expulsa 3

DA REDAÇÃO

O regime do ditador Fidel Castro autorizou de modo implícito a abertura, ontem em Havana, de um congresso de oposicionistas, com cerca de 200 participantes. Mas expulsou três parlamentares de países europeus e jornalistas que participariam do evento.
Os expulsos são a senadora espanhola Rosa López Garnica, o senador tcheco Karel Scharzenberg e o deputado alemão Arnold Vaats. As autoridades cubanas ainda proibiram o desembarque dos poloneses Jacek Protasiewicz e Boguslaw Sonik, ambos deputados no Parlamento Europeu.
Também foram vítimas da medida dois ex-senadores espanhóis e quatro jornalistas -três poloneses e um italiano-, além de um representante dos exilados cubanos em Miami.
A reação hostil do governo cubano repercutiu em Bruxelas, onde a União Européia qualificou o incidente de "inaceitável". Amadeu Tardio, porta-voz da Comissão Européia, espécie de Poder Executivo do grupo de 25 países, disse que na próxima reunião dos ministros das Relações Exteriores, em junho, será decidido entre o prosseguimento do diálogo com Cuba e a readoção de sanções diplomáticas por violações aos direitos humanos, que foram suspensas em janeiro.
O governo italiano pediu explicações à embaixadora cubana em Roma sobre a expulsão de um jornalista do "Corriere della Sera", que cobriria a reunião.
De qualquer modo, sua própria realização, pela primeira vez em 46 anos de ditadura comunista, foi festejada ruidosamente por seus participantes, aos gritos de "liberdade" e "abaixo Fidel".
"É um triunfo para toda a oposição", disse Martha Beatriz Roque, uma das organizadoras. O dia 20 de maio foi escolhido por ser o 103� aniversário da Independência e da instituição da República naquele país caribenho.
Segundo Roque, que é economista e ex-prisioneira política, cerca de 360 opositores planejavam participar do encontro. Mas só pouco mais da metade compareceu porque a polícia impediu que muitos deles deixassem suas cidades e viajassem até Havana.
Quanto à expulsão dos parlamentares europeus a dissidente afirmou que a media comprova "a natureza totalitária do governo de Fidel Castro".
Aos participantes, ela afirmou que "nenhum Estado, nenhum regime e nenhum partido tem o direito de controlar toda uma nação, e é por isso que hoje estamos todos reunidos aqui".
Chamado oficialmente de Assembléia Geral para a Promoção da Sociedade Civil, a reunião foi programada para permitir o diálogo entre os grupos partidários da implantação, em Cuba, de uma democracia pluralista de modelo ocidental. O local do encontro é modesto. Os participantes formam um imenso círculo e se acomodam em cadeiras de plástico.
O presidente George W. Bush, dos Estados Unidos, enviou mensagem aos participantes da assembléia. "Enquanto vocês lutarem pela liberdade em seu país o povo americano estará ao lado de vocês", afirmou em gravação. Alguns dos presentes o saudaram aos gritos de "Viva Bush!".
Esteve também presente James Cason, chefe do escritório dos interesses dos Estados Unidos em Havana -os dois países não têm relações diplomáticas e não trocam embaixadores.
Fidel Castro acusa a oposição de estar a soldo de Washington, o que Cason nega. "Cabe aos cubanos discutir o rumo que pretendem dar ao seu país", disse ele.
A última tentativa de reunir a oposição foi cancelada em 1996, depois que seus 50 possíveis participantes foram interpelados pelas forças policiais.


Com agências internacionais

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