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IRAQUE SOB TUTELA
Divulgação de imagens, que publicações dizem ter obtido de militares americanos, pode acirrar tensão anti-EUA
Jornais exibem foto de Saddam de cueca
DA REDAÇÃO
Fotos do ex-ditador iraquiano
Saddam Hussein trajando apenas
uma cueca branca ilustraram ontem a capa dos jornais sensacionalistas "The Sun" (Reino Unido)
e "New York Post" (EUA). As publicações -ambas do empresário
australiano Rupert Murdoch-
disseram ter obtido a imagem por
meio de militares dos EUA, que
por sua vez negaram uma divulgação oficial e anunciaram uma
"investigação agressiva" do caso.
"Estamos investigando agressivamente e vamos descobrir o que
aconteceu", disse em Bagdá o coronel americano Steve Boylan.
Para o Pentágono, a publicação
pode violar as Convenções de Genebra -o estatuto dos prisioneiros de guerra protege sua imagem
da "degradação ou curiosidade
pública", e Saddam recebeu esse
status dos EUA um mês após ser
preso, em dezembro de 2003.
A foto na capa dos jornais mostra o ex-ditador de cueca segurando a própria calça em sua cela no
Iraque, em local ignorado. Outras
imagens publicadas pelo "Sun" o
retratam lavando a própria roupa
a mão e dormindo.
Hoje, o tablóide, o mais vendido
do Reino Unido, publicou uma
imagem do ex-ditador de bata
branca, aparentemente rezando.
Condenação
"Está claro que as imagens foram feitas dentro da prisão, o que
significa que os soldados americanos as vazaram", disse Ziad al
Khasawneh, chefe da defesa de
Saddam, acrescentando que processará "o "Sun" e todos os envolvidos". A indenização pedida, segundo seu colega Emmanuel Ludot, será de US$ 1 milhão.
Além de soldados dos EUA, têm
acesso ao ex-ditador sua equipe
de advogados, o promotor Raed
Johyee e a Cruz Vermelha.
Não se trata da primeira vez que
algo do gênero acontece. Desde a
captura de Saddam, duas séries de
imagens do ex-ditador em situações humilhantes - sendo conduzido algemado a uma audiência e, ainda sujo e desgrenhado,
tendo os dentes examinados-
foram divulgadas pelos EUA.
Acredita-se que as novas imagens datem do ano passado. Segundo a Cruz Vermelha, cabe às
forças americanas, detentoras da
custódia do ex-ditador na época,
preservar sua privacidade
Tensões acirradas
O "New York Post" disse em um
comunicado que as fotos mostravam que "Saddam está recebendo
melhor tratamento do que as pessoas que ele mantinha presas durante seu regime" (1979-2003). Já
o editor administrativo do "Sun",
Graham Dudman, defendeu a decisão de publicar as imagens e
questionou se outro veículo de
mídia teria deixado de divulgá-las: "Trata-se de uma fantástica
série iconográfica de notícias."
O governo americano está sob
novas pressões e críticas desde
que uma reportagem da revista
"Newsweek" afirmou que exemplares do Alcorão, livro sagrado
dos muçulmanos, foram jogados
na privada na prisão militar de
Guantánamo. A revista recuou,
mas isso não poupou a imagem
americana de novos e profundos
arranhões. O caso das fotos de
Saddam pode agravar a situação.
Mesmo assim, o presidente
George W. Bush disse não esperar
que as imagens alimentem o sentimento antiamericano no Iraque.
"Não acho que essas fotos inspirem assassinos. Essa gente é motivado por uma visão retrógrada e
bárbara do mundo", disse.
A imprensa árabe se dividiu sobre a questão. A principal rede de
TV da região, a Al Jazira (Qatar),
se recusou a exibir as imagens, dizendo que elas "não são notícia".
Mas sua concorrente Al Arabiya,
de Dubai, inseriu as fotos em todos os seus boletins horários.
Já o jornal árabe publicado em
Londres "Al Quds Al Arabi" classificou as imagens de "revoltantes". "Estão jogando sal na ferida.
Não é nada heróico publicar uma
foto de um homem em sua intimidade, usando roupas íntimas",
disse o editor Abdel Bari Atwan.
A mesma divisão aparece entre
a população. Sabine Hajj, uma libanesa de 25 anos, chamou as
imagens de "vergonhosas e controversas, um insulto aos seres
humanos". O jordaniano Rawad
Nasr, 30, achou "chocante" e condenou a publicação. Já Ali Yousef,
21, do Bahrein, disse que "morreu
de rir" ao ver as imagens. "Saddam merece o pior", afirmou.
Julgamento
Segundo o ministro do Planejamento iraquiano, Barham Salih, o
juiz titular do tribunal especial
que cuida do caso do ex-ditador
disse que Saddam "pode ser levado à corte dentro dos próximos
meses". Ele não deu detalhes.
Com agências internacionais
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