São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Divulgação de imagens, que publicações dizem ter obtido de militares americanos, pode acirrar tensão anti-EUA

Jornais exibem foto de Saddam de cueca

DA REDAÇÃO

Fotos do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein trajando apenas uma cueca branca ilustraram ontem a capa dos jornais sensacionalistas "The Sun" (Reino Unido) e "New York Post" (EUA). As publicações -ambas do empresário australiano Rupert Murdoch- disseram ter obtido a imagem por meio de militares dos EUA, que por sua vez negaram uma divulgação oficial e anunciaram uma "investigação agressiva" do caso.
"Estamos investigando agressivamente e vamos descobrir o que aconteceu", disse em Bagdá o coronel americano Steve Boylan.
Para o Pentágono, a publicação pode violar as Convenções de Genebra -o estatuto dos prisioneiros de guerra protege sua imagem da "degradação ou curiosidade pública", e Saddam recebeu esse status dos EUA um mês após ser preso, em dezembro de 2003.
A foto na capa dos jornais mostra o ex-ditador de cueca segurando a própria calça em sua cela no Iraque, em local ignorado. Outras imagens publicadas pelo "Sun" o retratam lavando a própria roupa a mão e dormindo.
Hoje, o tablóide, o mais vendido do Reino Unido, publicou uma imagem do ex-ditador de bata branca, aparentemente rezando.

Condenação
"Está claro que as imagens foram feitas dentro da prisão, o que significa que os soldados americanos as vazaram", disse Ziad al Khasawneh, chefe da defesa de Saddam, acrescentando que processará "o "Sun" e todos os envolvidos". A indenização pedida, segundo seu colega Emmanuel Ludot, será de US$ 1 milhão.
Além de soldados dos EUA, têm acesso ao ex-ditador sua equipe de advogados, o promotor Raed Johyee e a Cruz Vermelha.
Não se trata da primeira vez que algo do gênero acontece. Desde a captura de Saddam, duas séries de imagens do ex-ditador em situações humilhantes - sendo conduzido algemado a uma audiência e, ainda sujo e desgrenhado, tendo os dentes examinados- foram divulgadas pelos EUA.
Acredita-se que as novas imagens datem do ano passado. Segundo a Cruz Vermelha, cabe às forças americanas, detentoras da custódia do ex-ditador na época, preservar sua privacidade

Tensões acirradas
O "New York Post" disse em um comunicado que as fotos mostravam que "Saddam está recebendo melhor tratamento do que as pessoas que ele mantinha presas durante seu regime" (1979-2003). Já o editor administrativo do "Sun", Graham Dudman, defendeu a decisão de publicar as imagens e questionou se outro veículo de mídia teria deixado de divulgá-las: "Trata-se de uma fantástica série iconográfica de notícias."
O governo americano está sob novas pressões e críticas desde que uma reportagem da revista "Newsweek" afirmou que exemplares do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, foram jogados na privada na prisão militar de Guantánamo. A revista recuou, mas isso não poupou a imagem americana de novos e profundos arranhões. O caso das fotos de Saddam pode agravar a situação.
Mesmo assim, o presidente George W. Bush disse não esperar que as imagens alimentem o sentimento antiamericano no Iraque. "Não acho que essas fotos inspirem assassinos. Essa gente é motivado por uma visão retrógrada e bárbara do mundo", disse.
A imprensa árabe se dividiu sobre a questão. A principal rede de TV da região, a Al Jazira (Qatar), se recusou a exibir as imagens, dizendo que elas "não são notícia". Mas sua concorrente Al Arabiya, de Dubai, inseriu as fotos em todos os seus boletins horários.
Já o jornal árabe publicado em Londres "Al Quds Al Arabi" classificou as imagens de "revoltantes". "Estão jogando sal na ferida. Não é nada heróico publicar uma foto de um homem em sua intimidade, usando roupas íntimas", disse o editor Abdel Bari Atwan.
A mesma divisão aparece entre a população. Sabine Hajj, uma libanesa de 25 anos, chamou as imagens de "vergonhosas e controversas, um insulto aos seres humanos". O jordaniano Rawad Nasr, 30, achou "chocante" e condenou a publicação. Já Ali Yousef, 21, do Bahrein, disse que "morreu de rir" ao ver as imagens. "Saddam merece o pior", afirmou.

Julgamento
Segundo o ministro do Planejamento iraquiano, Barham Salih, o juiz titular do tribunal especial que cuida do caso do ex-ditador disse que Saddam "pode ser levado à corte dentro dos próximos meses". Ele não deu detalhes.


Com agências internacionais

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