DE LONDRES

Um escritório de advocacia de Londres encontrou uma forma não muito convencional de buscar novos clientes: estimular o divórcio. A Brookman Advogados mandou colocar cartazes dentro dos banheiros masculinos de pubs de Londres com a frase "Ditch the bitch", que em português pouco polido significa "Livre-se da vadia". No pôster, o slogan surge acompanhado de uma mala marrom fechada, pronta para viagem, e do telefone do escritório de advogados.
São cerca de 50 cartazes, espalhados pelos bares da City, centro financeiro de Londres. Foi elaborada também uma versão para os banheiros femininos, que mostra uma mulher chorando em sua cama e decreta: "Todos os homens são bastardos".
A campanha, iniciada há pouco mais de uma semana, enfureceu feministas londrinas, que manifestaram sua insatisfação com a propaganda.
"Os cartazes são muito depreciativos para as mulheres. Reprovamos os dois, mas o uso da palavra "vadia" tem conotação mais negativa do que a palavra "bastardos'", disse Sarah Watkins, porta-voz da ONG Women's Aid.
"Esses anúncios não valem nem comentário", disse Sandra Horley, diretora da grupo Refuge, que dá apoio a mulheres espancadas.
"Uma campanha responsável encorajaria as reconciliações, mas isso não interessa aos advogados", disse Robert Whelan, do grupo de assistência à família Family and Youth Concern.

Apoio da mulher
Henry Brookman, 52, diretor do escritório de advocacia especializado em divórcios, argumenta que a intenção não é ofender ninguém. "Apenas abordamos o assunto de forma direta e com bom humor", disse à Folha o advogado. Segundo ele, a idéia para a campanha foi da agência de publicidade que atende sua empresa. "Quando me mostraram os cartazes, achei engraçado, mas pensei: "Não posso permitir isso". Contei a história para a minha mulher, que riu e disse que a campanha tinha de ser feita."
Brookman, casado há 27 anos e pai de três filhos adultos, diz nunca ter pensado em divórcio.
O publicitário de Brookman rebateu as críticas das feministas com ironia. "O que essas mulheres iriam fazer nos banheiros masculinos?", questionou George Shaw, um dos diretores da agência Joslin Shaw.
Segundo a Advertising Standards Authority, órgão que monitora o setor de propaganda, até agora não houve nenhuma queixa formal contra os cartazes.
Brookman diz que dezenas de pessoas já ligaram para o escritório dizendo ter visto os cartazes e pedindo mais informações. "Conquistei ao menos quatro novos clientes com a propaganda."
Segundo o advogado, seus clientes são, em geral, homens e mulheres que trabalham no centro financeiro londrino. "Foi por isso que optamos pelos pubs da City, que ficam cheios de executivos no final do expediente."

"Boa piada"
Entre os clientes potenciais de seu escritório está o economista Neil Pajak, 32, que trabalha no Banco da Escócia. Casado há seis anos, ele frequenta o pub "The Magpie and Stump", ocasionalmente, após o trabalho.
Depois de ver o cartaz em sua passagem pelo banheiro do bar, Pajak disse: "É uma boa piada, mas acho que, se meu casamento não estivesse bem, teria vontade de ligar". Com o nó da gravata afrouxado, fumando um cigarro e no quarto copo de cerveja, o economista afirmou: "O único problema é que não estaria em condições de anotar o número do telefone desses advogados".
Sua colega de trabalho Lindsay Eaton, 29, solteira, não deu sinais de ter-se incomodado com o anúncio no banheiro feminino. "Quem vem para um pub tomar uma cerveja sabe que é tudo brincadeira", disse Eaton.
(LEONARDO CRUZ)


Texto Anterior: Justiça: Polígamo é condenado nos EUA
Próximo Texto: Igreja Anglicana quer evitar separações
Índice