São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUSTIÇA

Com 5 mulheres, Green alegou que seguia preceito original dos mórmons

Polígamo é condenado nos EUA

DA REUTERS

O ex-missionário mórmon Tom Green, 52, foi condenado anteontem por quatro acusações de bigamia, provocando choro compulsivo de duas de suas cinco mulheres em um tribunal do Estado de Utah. Além das cinco mulheres atuais (três delas grávidas), Green acumula cinco ex-mulheres e 29 filhos.
O processo, o primeiro aberto contra um polígamo nos EUA nos últimos 50 anos, chamou a atenção do país para Utah, onde a poligamia era comum entre religiosos mórmons no início da ocupação da região.
No entanto a prática foi banida no início da década de 1890 como um pré-requisito para que Utah fosse aceito como Estado da Federação americana. Desde então, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, denominação oficial da Igreja Mórmon, fundada em 1830, excomunga fiéis que praticam a poligamia -Green foi um deles. Apesar de ilegal, porém, a prática era tolerada no Estado.
O júri, composto de cinco mulheres e três homens, também considerou Green culpado pelo estupro, em 1986, de uma menina de 13 anos -com quem ele posteriormente se casou- e por não conseguir arcar com os custos relativos à educação de um de seus 29 filhos.
Uma de suas mulheres, Hannah, 24, soluçava compulsivamente ao ouvir a decisão. "Não está certo. Ele é culpado por passar sua vida inteira vivendo por sua família", disse a repórteres.
Além de suas cinco mulheres, pelo menos seis das 25 crianças que vivem com Green no leste de Utah estavam presentes no tribunal.
A promotoria argumentou que Green casava-se com mulheres muito jovens (suas cinco têm cerca de 20 anos) para posteriormente se divorciar, continuando a viver com elas e beneficiando-se da assistência social que passavam a receber como divorciadas.
Green desafiou a decisão do júri ao dizer que não vai mudar seu estilo de vida, a que o promotor David Leavitt -irmão do governador do Estado- reagiu dizendo: "Veremos".

"Fundamentalismo"
O advogado do ex-missionário, John Bucher, disse temer que o veredicto leve outros praticantes de poligamia no Estado a se esconder ainda mais. Estima-se que 30 mil pessoas em Utah tenham relacionamentos polígamos, embora, ao contrário de Green -que fazia apologia de seu estilo de vida em programas de TV-, comportem-se discretamente.
Green alegou que era um "mórmon fundamentalista", o que, segundo ele, significa que ele segue a poligamia como um dos preceitos originais da igreja. Em seu depoimento, o réu disse ainda que os promotores apenas o acusaram por ele ter falado abertamente sobre a poligamia em canais de TV de alcance nacional.
O juiz Guy Burningham marcou o anúncio da sentença para 27 de junho. Pelas acusações de bigamia, Green pode ser condenado a até 25 anos de prisão.
A defesa do réu alegava que a definição de Utah para poligamia é "inconstitucionalmente vaga" e não especifica o tipo de comportamento considerado ilegal.
Pela acusação de estupro -para qual a data de fixação da sentença ainda não foi definida-, Green poderá pegar até prisão prisão perpétua. O réu disse que apelará da decisão.


Texto Anterior: Vaticano censura obra de teólogo espanhol
Próximo Texto: Sociedade: Advogados londrinos estimulam o divórcio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.