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Vaticano censura obra de teólogo espanhol
DA REDAÇÃO
Em questões de moral, a Congregação para a Doutrina da Fé, a
voz da ortodoxia católica, presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger,
não aceita inovações. O teólogo
espanhol Marciano Vidal García,
ex-diretor do Instituto Superior
de Ciências Morais de Madri e
professor de teologia moral da
Universidade Pontifícia de Comillas, terá de reelaborar seus escritos, determinou o Vaticano.
"A disponibilidade manifestada
pelo autor em corrigir os erros e
as ambiguidades que se apresentam em alguns de seus escritos se
concretizou, finalmente, para a
satisfação de todos, na aceitação
de reelaborar em especial a obra
intitulada "Moral de Atitudes", sob
a supervisão desta Comissão Pastoral", diz um dos parágrafos do
comunicado emitido na semana
passada pela Comissão Episcopal
para a Doutrina da Fé.
"De seus numerosos escritos,
apenas alguns deverão ser reelaborados, segundo o próprio autor
se comprometeu a fazer", afirma
a comissão que zela pela ortodoxia católica na Espanha.
Redentorista, Vidal García, 64, é
um dos teólogos mais prolíficos
da Espanha, cuja obra é estudada
em diversos países de maioria católica, incluindo o Brasil. Vidal
pertenceu à Associação dos Teólogos João 23, de caráter progressista, mas a abandonou para evitar conflitos com a Santa Sé.
Sobre a masturbação, por
exemplo, o teólogo diz que "a avaliação moral cristã não pode continuar a se apoiar no esquema de
uma antropologia sexual pré-científica já ultrapassada".
Vidal afirma que "os teólogos
dos séculos 12 e 13 condenam a
masturbação como um ato que
vai contra a finalidade própria outorgada por Deus ao sêmen humano... Desperdiçá-lo inutilmente é ir contra a própria natureza. A
moral se apoiava em concepções
pré-científicas da sexualidade".
Para ele, "não é de admirar que se
fundasse a imoralidade da masturbação em razões e argumentos
que atualmente carecem de valor
científico".
A respeito do homossexualismo, Vidal alega que "não pertence à reflexão moral criar instâncias -que seriam fictícias- de
juízo absolutório ou condenatório. Pelo contrário, a sua tarefa é a
de iluminar as pistas de uma autêntica realização humana, partindo da condição homossexual"
Em seu "Dicionário de Moral"
(editora Santuário), diz: "Como
entender então a homossexualidade? Nem como doença nem como simples variante da sexualidade, mas como a condição sexual
-não doença- de uma pessoa
que parou no processo de diferenciação... A condição sexual não
inclui, per si, nenhum traço de patologia somática ou psíquica".
Os métodos contraceptivos, para o teólogo espanhol, "não podem ser considerados meios lícitos para controlar a natalidade,
mas são moralmente aceitáveis
em situação de notável gravidade
quando é impossível recorrer a
outros meios".
Ao divulgar os resultados do
processo a que foi submetida a
obra de Vidal desde 1997, o Vaticano emitiu um comunicado
marcado por acusações de "ambiguidades" e "erros", com uma
ampla enumeração dos últimos.
Ideologicamente conservador,
o papa João Paulo 2�, que completou 81 anos anteontem e ressaltou
a "santidade do casamento", disse
que a igreja não aprova relações
sexuais antes do casamento e que
o sexo deve ter fim reprodutivo.
"União irregular"
A Congregação para a Doutrina
da Fé e Vidal dialogaram, diretamente ou por carta, antes do veredicto do processo. Mas o teólogo
continua atuante. Na semana passada, a Confederação Espanhola
de Religiosos anunciou que ele
participaria de um curso sobre "a
situação dos cristãos divorciados
que casam novamente, os católicos unidos apenas pelo casamento civil e o batismo de crianças
nascidas de uma união matrimonial irregular".
(PDF)
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