São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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Vaticano censura obra de teólogo espanhol

DA REDAÇÃO

Em questões de moral, a Congregação para a Doutrina da Fé, a voz da ortodoxia católica, presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, não aceita inovações. O teólogo espanhol Marciano Vidal García, ex-diretor do Instituto Superior de Ciências Morais de Madri e professor de teologia moral da Universidade Pontifícia de Comillas, terá de reelaborar seus escritos, determinou o Vaticano.
"A disponibilidade manifestada pelo autor em corrigir os erros e as ambiguidades que se apresentam em alguns de seus escritos se concretizou, finalmente, para a satisfação de todos, na aceitação de reelaborar em especial a obra intitulada "Moral de Atitudes", sob a supervisão desta Comissão Pastoral", diz um dos parágrafos do comunicado emitido na semana passada pela Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé.
"De seus numerosos escritos, apenas alguns deverão ser reelaborados, segundo o próprio autor se comprometeu a fazer", afirma a comissão que zela pela ortodoxia católica na Espanha.
Redentorista, Vidal García, 64, é um dos teólogos mais prolíficos da Espanha, cuja obra é estudada em diversos países de maioria católica, incluindo o Brasil. Vidal pertenceu à Associação dos Teólogos João 23, de caráter progressista, mas a abandonou para evitar conflitos com a Santa Sé.
Sobre a masturbação, por exemplo, o teólogo diz que "a avaliação moral cristã não pode continuar a se apoiar no esquema de uma antropologia sexual pré-científica já ultrapassada".
Vidal afirma que "os teólogos dos séculos 12 e 13 condenam a masturbação como um ato que vai contra a finalidade própria outorgada por Deus ao sêmen humano... Desperdiçá-lo inutilmente é ir contra a própria natureza. A moral se apoiava em concepções pré-científicas da sexualidade". Para ele, "não é de admirar que se fundasse a imoralidade da masturbação em razões e argumentos que atualmente carecem de valor científico".
A respeito do homossexualismo, Vidal alega que "não pertence à reflexão moral criar instâncias -que seriam fictícias- de juízo absolutório ou condenatório. Pelo contrário, a sua tarefa é a de iluminar as pistas de uma autêntica realização humana, partindo da condição homossexual"
Em seu "Dicionário de Moral" (editora Santuário), diz: "Como entender então a homossexualidade? Nem como doença nem como simples variante da sexualidade, mas como a condição sexual -não doença- de uma pessoa que parou no processo de diferenciação... A condição sexual não inclui, per si, nenhum traço de patologia somática ou psíquica".
Os métodos contraceptivos, para o teólogo espanhol, "não podem ser considerados meios lícitos para controlar a natalidade, mas são moralmente aceitáveis em situação de notável gravidade quando é impossível recorrer a outros meios".
Ao divulgar os resultados do processo a que foi submetida a obra de Vidal desde 1997, o Vaticano emitiu um comunicado marcado por acusações de "ambiguidades" e "erros", com uma ampla enumeração dos últimos.
Ideologicamente conservador, o papa João Paulo 2�, que completou 81 anos anteontem e ressaltou a "santidade do casamento", disse que a igreja não aprova relações sexuais antes do casamento e que o sexo deve ter fim reprodutivo.

"União irregular"
A Congregação para a Doutrina da Fé e Vidal dialogaram, diretamente ou por carta, antes do veredicto do processo. Mas o teólogo continua atuante. Na semana passada, a Confederação Espanhola de Religiosos anunciou que ele participaria de um curso sobre "a situação dos cristãos divorciados que casam novamente, os católicos unidos apenas pelo casamento civil e o batismo de crianças nascidas de uma união matrimonial irregular". (PDF)


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