São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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RELIGIÃO

Consistório que se inicia amanhã e vai até quinta-feira funcionará como uma espécie de pré-conclave no Vaticano

Sucessão papal domina reunião de cardeais

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

Cerca de 180 cardeais de diversos países participarão a partir de amanhã de um consistório convocado pelo papa João Paulo 2� para definir o perfil da Igreja Católica no terceiro milênio.
Para diversos vaticanistas -especialistas em assuntos ligados à Santa Sé-, a intenção do líder católico é fazer do consistório uma espécie de pré-conclave em que candidatos à sucessão papal possam se conhecer melhor.
Da assembléia de cardeais, que vai durar quatro dias, devem participar tanto os 135 cardeais com direito a voto num eventual conclave, ou seja, os que têm menos de 80 anos, quanto parte dos 48 cardeais que não poderão expressar sua opinião sobre quem deve ser o próximo papa após a morte ou a renúncia de João Paulo 2�, 81.
É provável que os cardeais mais idosos ou aqueles com a saúde mais debilitada não compareçam à reunião no Vaticano.
Após a nomeação, em fevereiro, de 44 cardeais de 27 países (incluindo o Brasil, com dom Geraldo Majella Agnelo, de Salvador, e dom Cláudio Hummes, de São Paulo), o consistório servirá de teste para a "Domus Sanctae Marthae", a casa de hóspedes do Vaticano, restaurada para ser capaz de abrigar um eventual conclave, que elegerá a portas fechadas o novo líder da Igreja Católica.
Sem dúvida, o consistório vai incluir temas-chave para o futuro da igreja, como o diálogo inter-religioso e ecumênico e a função dos missionários. A ordem do dia, no entanto, não foi divulgada, o que reforça a tese de que o intuito principal é possibilitar que os cardeais conheçam melhor as posições de seus colegas, além de debater a relação entre a Cúria romana e as igrejas locais.
A visita do papa à Ucrânia, país de maioria cristã ortodoxa, em junho, também deve integrar a pauta das reuniões. Segundo o cardeal austríaco Franz König, 95, que já participou de três conclaves, "o próprio papa admitiu que seu cargo representa uma dificuldade para o ecumenismo. Por isso convidou as igrejas ao debate, mas as reações foram débeis".
No último consistório, em 1994, o Vaticano analisou as consequências de pedir perdão por erros de "filhos da Igreja Católica" cometidos no passado.
König criticou a concentração de poder nas mãos do papa. "A igreja universal precisa de unidade, mas também de diversidade. Isso só será possível se as conferências episcopais não se limitarem a escutar e adquirirem mais poder de decisão." O cardeal assevera que "o papa é o sucessor de Pedro, responsável pela unidade da igreja. Nada mais. Seu cargo não é o de comandante central".
Há 135 cardeais eleitores -quase todos nomeados pelo atual papa. Com oito cardeais, o Brasil é o terceiro país com mais religiosos dentre os 68 países representados no Colégio Cardinalício. Só a Itália, com 41 cardeais, e os Estados Unidos, com 13, superam o Brasil.
A América Latina tem 33 representantes, dos quais 27 votam.
Apesar da quantidade de fiéis (422 milhões de cerca de 1 bilhão de católicos), a América Latina tem apenas 20% dos cardeais eleitores. A Europa, os EUA e o Canadá, juntos, possuem menos católicos -cerca de 350 milhões-, mas somam 58% dos cardeais eleitores. No Brasil, apenas dom Eugênio Salles não vota. Em setembro, dom Paulo Evaristo Arns também deixa de votar.
Quem deve ser o próximo sucessor de são Pedro só o "Espírito Santo é que sabe", como dizem tradicionalmente os cardeais. Mas a nacionalidade italiana não é mais uma prioridade como costumava ser antes da eleição do atual papa, que nasceu na Polônia. Ao escolherem em 1978 Karol Wojtyla, os cardeais puseram fim ao "domínio" ininterrupto de italianos na liderança da Igreja Católica por mais de 450 anos.


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