|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELIGIÃO
Consistório que se inicia amanhã e vai até quinta-feira funcionará como uma espécie de pré-conclave no Vaticano
Sucessão papal domina reunião de cardeais
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Cerca de 180 cardeais de diversos países participarão a partir de
amanhã de um consistório convocado pelo papa João Paulo 2�
para definir o perfil da Igreja Católica no terceiro milênio.
Para diversos vaticanistas -especialistas em assuntos ligados à
Santa Sé-, a intenção do líder católico é fazer do consistório uma
espécie de pré-conclave em que
candidatos à sucessão papal possam se conhecer melhor.
Da assembléia de cardeais, que
vai durar quatro dias, devem participar tanto os 135 cardeais com
direito a voto num eventual conclave, ou seja, os que têm menos
de 80 anos, quanto parte dos 48
cardeais que não poderão expressar sua opinião sobre quem deve
ser o próximo papa após a morte
ou a renúncia de João Paulo 2�, 81.
É provável que os cardeais mais
idosos ou aqueles com a saúde
mais debilitada não compareçam
à reunião no Vaticano.
Após a nomeação, em fevereiro,
de 44 cardeais de 27 países (incluindo o Brasil, com dom Geraldo Majella Agnelo, de Salvador, e
dom Cláudio Hummes, de São
Paulo), o consistório servirá de
teste para a "Domus Sanctae Marthae", a casa de hóspedes do Vaticano, restaurada para ser capaz de
abrigar um eventual conclave,
que elegerá a portas fechadas o
novo líder da Igreja Católica.
Sem dúvida, o consistório vai
incluir temas-chave para o futuro
da igreja, como o diálogo inter-religioso e ecumênico e a função
dos missionários. A ordem do dia,
no entanto, não foi divulgada, o
que reforça a tese de que o intuito
principal é possibilitar que os cardeais conheçam melhor as posições de seus colegas, além de debater a relação entre a Cúria romana e as igrejas locais.
A visita do papa à Ucrânia, país
de maioria cristã ortodoxa, em junho, também deve integrar a pauta das reuniões. Segundo o cardeal austríaco Franz König, 95,
que já participou de três conclaves, "o próprio papa admitiu que
seu cargo representa uma dificuldade para o ecumenismo. Por isso
convidou as igrejas ao debate,
mas as reações foram débeis".
No último consistório, em 1994,
o Vaticano analisou as consequências de pedir perdão por erros de "filhos da Igreja Católica"
cometidos no passado.
König criticou a concentração
de poder nas mãos do papa. "A
igreja universal precisa de unidade, mas também de diversidade.
Isso só será possível se as conferências episcopais não se limitarem a escutar e adquirirem mais
poder de decisão." O cardeal assevera que "o papa é o sucessor de
Pedro, responsável pela unidade
da igreja. Nada mais. Seu cargo
não é o de comandante central".
Há 135 cardeais eleitores -quase todos nomeados pelo atual papa. Com oito cardeais, o Brasil é o
terceiro país com mais religiosos
dentre os 68 países representados
no Colégio Cardinalício. Só a Itália, com 41 cardeais, e os Estados
Unidos, com 13, superam o Brasil.
A América Latina tem 33 representantes, dos quais 27 votam.
Apesar da quantidade de fiéis
(422 milhões de cerca de 1 bilhão
de católicos), a América Latina
tem apenas 20% dos cardeais eleitores. A Europa, os EUA e o Canadá, juntos, possuem menos católicos -cerca de 350 milhões-,
mas somam 58% dos cardeais
eleitores. No Brasil, apenas dom
Eugênio Salles não vota. Em setembro, dom Paulo Evaristo Arns
também deixa de votar.
Quem deve ser o próximo sucessor de são Pedro só o "Espírito
Santo é que sabe", como dizem
tradicionalmente os cardeais.
Mas a nacionalidade italiana não
é mais uma prioridade como costumava ser antes da eleição do
atual papa, que nasceu na Polônia. Ao escolherem em 1978 Karol
Wojtyla, os cardeais puseram fim
ao "domínio" ininterrupto de italianos na liderança da Igreja Católica por mais de 450 anos.
Texto Anterior: Multimídia: "Xuxa colombiana" foge para Miami Próximo Texto: Vaticano censura obra de teólogo espanhol Índice
|