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"Ameaça potencial" justifica sistema antimísseis dos EUA, diz analista
LEONARDO CRUZ
DE LONDRES
O governo norte-americano está exposto a ataques de adversários políticos que justificam a
criação de um sistema de defesa
antimísseis.
Essa é a opinião de Mats Berdal,
um dos diretores do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), entidade independente, com sede em Londres, que,
desde 1958, produz análises da
geopolítica mundial, incluindo
estudos sobre estratégias militares, controle de armas, segurança
nacional e resolução de conflitos.
Na avaliação de Berdal, o presidente norte-americano, George
W. Bush, tem motivos para querer o esvaziamento do Tratado
Antimísseis Balísticos (TAB), assinado com a União Soviética em
1972 e que impede a construção
do sistema.
"As "nações irresponsáveis", como diz Bush, possuem acesso cada vez mais fácil a armamentos e
tecnologia poderosos", afirma
Berdal.
Segundo o IISS, cerca de 30 países possuem ou tentam adquirir
mísseis balísticos. Na avaliação do
instituto, a Coréia do Norte, o Irã,
o Iraque, a Síria e a Líbia são as
ameaças potenciais aos Estados
Unidos, devido às relações difíceis
que têm com o país ou com seus
aliados.
Berdal afirma que a Coréia do
Norte, que se opõe à construção
do escudo e tem mais de 150 mísseis de curto ou médio alcance, é o
país com mais condições de atacar os EUA.
"Mas não acho que os norte-coreanos fariam isso agora ou em
um futuro breve. É essencialmente potencial", avalia.
Ainda segundo o IISS, o Irã teria
cerca de 600 mísseis, a maioria de
curto alcance, e o Iraque possuiria
cerca de 200 mísseis.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Berdal, em
Londres, à Folha.
Folha - Há alguma ameaça real
aos EUA que justifique a construção de um sistema de defesa antimísseis?
Mats Berdal -Acredito que sim.
Não há dúvida de que existe essa
ameaça potencial derivada da
proliferação do número de armas
de destruição em massa no mundo. Hoje muitos países têm facilidade para adquirir armas e tecnologia necessárias para provocar
grande dano. A Coréia do Norte, o
Irã e o Iraque, por exemplo, seriam capazes de atacar os EUA.
Mas isso não é tanto uma ameaça
imediata, clara, presente, mas
muito mais uma força potencial.
Folha - Mas se essa ameaça é só
potencial, não é exagero dos EUA
propor o novo sistema?
Berdal - Essa é uma característica da política dos EUA com os republicanos, que sempre tentaram
transmitir à população a idéia de
que os EUA são invulneráveis.
E esse raciocínio é exatamente
oposto ao TAB. Quando assinaram o acordo, EUA e URSS optaram por se expor ao máximo justamente para evitar ataques de
qualquer lado.
Agora, os EUA perceberam que
há uma crescente ameaça, representada por nações árabes, por
exemplo.
Folha - E qual deveria ser a posição da Europa nesse caso?
Berdal - A posição da Europa deve ser pragmática. O escudo antimísseis será criado, quer a Europa
queira, quer não. Acho que nenhum governo deveria tentar impedir Washington de criar o sistema de defesa.
Acho que o melhor a fazer é dialogar com a Rússia e com outras
nações que possam se sentir
ameaçadas. Para esclarecer que é
um sistema de defesa, não de ataque, e para evitar reações agressivas.
Folha - Mas o fato de os EUA terem lançado o projeto de criação
do escudo já não passa uma postura agressiva?
Berdal - É claro que os atos de
Bush são muito diferentes das
ações do democrata Bill Clinton,
que tinha uma postura mais conciliadora.
Penso que esse foco intenso no
programa de defesa antimísseis
pode passar uma mensagem errada, de provocação, aos adversários políticos dos Estados Unidos,
que podem sentir-se encorajados
a reagir.
É possível supor que o governo
Bush tenha criado o programa para
poder investir pesadamente em
sua indústria bélica, que conta com
um poderoso lobby no Congresso
americano?
Berdal - Acho essa tese excessivamente conspiratória. É evidente que muitos lucrarão com esse
novo sistema antimísseis, mas um
dos argumentos do governo dos
EUA é que, com uma defesa melhor, os gastos com armamentos
seriam menores.
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