São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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Atos de Bush são coerentes, diz assessor

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Há quatro meses no cargo, o presidente dos EUA, George W. Bush, está sendo bombardeado pela comunidade internacional por ter colocado em prática uma política externa que seria arrogante e irresponsável.
No entanto a irada reação externa parece não ter eco na opinião pública norte-americana nem é suficientemente forte para alterar a visão de mundo dos assessores mais próximos do presidente norte-americano.
"Bush só está cumprindo o que prometeu", disse à Folha Ari Fleischer, assessor de imprensa do presidente norte-americano. "O presidente está sendo coerente com seu programa de governo."
A maioria dos analistas independentes preocupa-se com a política de Bush, mas reconhece que o debate não afeta a base de apoio do presidente dentro do mecanismo político norte-americano.
Para Jim Lindsay, especialista em política externa dos EUA do Instituto Brookings, o americano médio ignora a polêmica em torno das ações externas de Bush, e, quando líderes externos fazem críticas, o discurso do presidente ainda sai fortalecido diante da opinião pública.
A polêmica em torno da política externa de Bush começou em março, quando a Casa Branca suspendeu a participação norte-americana nas discussões sobre aquecimento global. Mais tarde, Bush recusou-se a implementar padrões mais rígidos para a presença de arsênico na água potável e tomou outras medidas que, segundo críticos, criaram um ambiente propício para que os EUA perdessem duas importantes cadeiras na ONU, na Comissão de Direitos Humanos e no escritório de monitoramento de drogas.

Dilemas da Guerra Fria
No setor militar, Bush trouxe de volta dilemas da Guerra Fria ao irritar a China e a Rússia com seu projeto de construção de um escudo antimísseis. Até ser implementado, o escudo consumirá US$ 50 bilhões de contribuintes norte-americanos e poderá reiniciar uma corrida armamentista.
Segundo Lindsay, Fleischer estaria parcialmente correto ao sustentar que Bush está sendo totalmente coerente. "Durante a campanha, o presidente realmente criticou o acordo sobre aquecimento global e nunca escondeu sua vontade de transformar o escudo em realidade", disse.
"Mas Bush voltou atrás na promessa feita na campanha de reduzir a emissão de gás carbônico pelas usinas energéticas; isso está longe de ser coerente." Para Lindsay, Bush também é incoerente ao pôr em prática uma política, que está longe de ser "humilde".
"A viga mestra do programa externo de Bush foi fortalecer as alianças norte-americanas no mundo e conduzir uma política externa "humilde". Ao afastar-se do Protocolo de Kyoto [sobre aquecimento global", Bush irritou ainda mais os aliados dos EUA e mostrou uma arrogância que ele criticava em (Bill) Clinton".
Para o jornalista Thomas Friedman, um dos maiores críticos da administração republicana, é verdade que Bush não pode ser acusado de inconsistência mesmo com o recuo no assunto da emissão de gás carbônico. "Os republicanos entraram na Casa Branca com posições conservadoras defendidas com devoção religiosa. Após quatro meses, não adaptaram essas posições à vida real".
Por enquanto, pesquisas de opinião indicam que os norte-americanos estão mais preocupados com a economia. O único assunto internacional que atraiu a atenção deles foi a disputa com a China, envolvendo a queda do avião-espião dos EUA em território chinês. Com o retorno da tripulação aos EUA, Bush escapou do teste.



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