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análise
Musharraf está em xeque após fiasco eleitoral
DO ENVIADO ESPECIAL
Nos meios diplomáticos de
Islamabad, Pervez Musharraf é apelidado de "mestre do
xadrez". Seu ritual de sobrevivência na turbulenta política local, posando de democrata liberal um dia e rasgando a Constituição no outro,
garantiram a ele a fama de
ser um dos políticos mais astutos destas terras.
Mas Musharraf está em
xeque, para muitos em xeque-mate. A maneira "civilizada" com a qual viu o chamado "partido do rei", a fração que o apoia da Liga Muçulmana do Paquistão
(PML-Q), ser massacrada indica duas coisas: ou que ele
jogou a toalha, ou que está
costurando, outra vez, a saída do aperto no tabuleiro.
Sua posição está enfraquecida. O apoio dos EUA parece
não garantir mais do que antipatia, e o Exército faz sua
retirada calculada pelas
mãos do seu até aqui aliado
Pervaiz Kayani, o comandante das Forças Armadas
que tenta desmilitarizar a
administração civil.
Calculada porque erra
quem aposta numa "normalização" à ocidental do papel
dos militares. O país se considera em guerra, ameaçado
por vizinhos instáveis, e a
farda esteve no centro de sua
história. Um momento mais
"low profile" não significa a
resignação.
Outro equívoco é o de que
o extremismo acabou porque a população rechaçou os
islâmicos nas urnas. Islâmicos nunca tiveram voto, à exceção da eleição de 2002, em
que houve uma reação pontual à aliança EUA-Musharraf pós 11/9.
E nem por isso pararam de
fomentar extremistas. Esse,
aliás, é um tema que deverá
ser acompanhado com atenção, pois a tendência do PPP
é justamente a de acomodar
esses setores, apesar do discurso moderado e de sua
mártir, Benazir Bhutto, ter
aparentemente morrido nas
mãos deles.
Se não renunciar, Musharraf pode ter alternativa a
uma tentativa, hoje pouco
provável devido ao escrutínio internacional e à recusa
do Exército, de uso de força.
Apesar dos acenos a outro
pólo oposicionista, o partido
de Nawaz Sharif, o PPP não é
refratário a um acordo com o
presidente -para evitar o
protagonismo de Sharif, já
que ele é líder de sua facção e
o PPP pós-Benazir não tem a
liderança consolidada.
Musharraf tem uma última chance para fazer valer o
apelido de "mestre do xadrez". Ou não, e vire mais um
ex-líder paquistanês no exílio -na própria casa ou na
acalentada aposentadoria na
Turquia.0
(IG)
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