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Fidel renuncia
Ditador alega razão de saúde para pôr formalmente fim a 49 anos de poder no único país comunista da América Latina
Anúncio, que saiu em jornal
estatal, não foi comentado
pelos demais dirigentes;
sucessão será decidida por
deputados a partir do dia 24
DA REDAÇÃO
O ditador Fidel Alejandro
Castro Ruz, 81, anunciou ontem que renunciava à presidência do Conselho de Estado cubano, equivalente à Presidência da República, e ao posto de
comandante-em-chefe das
Forças Armadas. Em mensagem publicada pelo jornal
"Granma", disse não ter mais
condições físicas para exercer
os dois cargos.
Ele estava afastado de fato
desde o final de julho de 2006,
quando se submeteu a uma cirurgia abdominal. Desde então
não compareceu a nenhuma
cerimônia pública. Sua mensagem de ontem formaliza o desfecho de mais de 49 anos no comando do único país comunista latino-americano.
Sucessão no dia 24
No próximo dia 24 toma posse o novo Parlamento, escolhido por um regime que não tolera partidos de oposição. Ele terá agora por missão indicar
uma nova cúpula do governo.
Cuba vem sendo governada nos
últimos 18 meses por Raúl Castro, 76, irmão do ditador e ministro da Defesa.
Formalmente Fidel continua
a ser deputado. Não esclareceu,
em sua mensagem, se também
abria mão do posto de primeiro-secretário do Partido Comunista. Mas anunciou que sua
ambição é a partir de agora
"combater apenas como soldado das idéias", publicando periodicamente "reflexões", já reproduzidas pela mídia oficial
desde março do ano passado.
Em sua mensagem de 1.033
palavras o ditador lembra que
foi primeiro-ministro por quase 18 anos -ele ocupou o cargo
entre 16 de fevereiro de 1959,
seis semanas depois que seus
guerrilheiros derrubaram a ditadura pró-americana de Fulgencio Batista, até dezembro de
1976, tornando-se presidente
nos 30 anos seguintes.
Fidel era em termos mundiais, e sem contar os monarcas
coroados, o governante há mais
tempo no poder. Precedeu em
nove anos o ditador do Gabão,
Omar Bongo, em dez o líbio
Muammar Gaddafi, e em 20 o
das Maldivas, arquipélago do
Índico, Maumoon Gayoom.
Aliado da hoje extinta União
Soviética durante a Guerra
Fria, Fidel foi objeto de tentativas de derrubá-lo de dez sucessivos governantes americanos.
A mais dramática foi a fracassada invasão da baía dos Porcos,
em 1961, durante o governo do
presidente John Kennedy.
Apesar de bons indicadores
sociais -baixa mortalidade infantil, altos índices de alfabetização- a Cuba de Fidel constitui unanimidade nos relatórios
de entidades de direitos humanos, que condenam o regime
pela falta de liberdades política
e de expressão e pela repressão
aos dissidentes internos.
Phil Peters, especialista em
questões cubanas no Instituto
Lexington, dos Estados Unidos,
disse ontem que "Fidel está
deixando o poder nas condições que ele próprio escolheu.
Não houve invasão externa,
operação clandestina, novo
embargo, radicalização das
sanções econômicas ou novas
iniciativas americanas".
Em sua mensagem, o ditador
disse que há um ano e meio, ao
ser operado, seus colegas na direção do partido e do Estado
"relutaram em me considerar
afastado", apesar "do estado
precário de minha saúde".
Mencionou os Estados Unidos,
"um adversário que fez tudo de
imaginável para se livrar de
mim, e eu de maneira nenhuma
gostaria de satisfazê-lo".
Citou uma carta endereçada
ao apresentador de um programa da TV cubana. Nela afirmou
que "meu dever fundamental
não é me aferrar a cargos, e
muito menos obstruir a ascensão de pessoas mais jovens, e
sim contribuir com experiências e idéias cujo modesto valor
provém da época excepcional
em que me coube viver".
Disse em seguida pensar como o arquiteto brasileiro Oscar
Niemeyer: "É preciso ser conseqüente até o final."
Havana
As emissoras cubanas de rádio e TV não interromperam
sua programação e nem homenagearam Fidel como o fariam
se ele estivesse morto. Limitaram-se a reproduzir nos noticiários trechos da mensagem
em que ele anunciou seu afastamento formal.
Com certa indiferença, Esther, professor aposentada, disse em Havana que, para ela, é
como se Fidel já estivesse há
mais tempo aposentado, e que
as coisas em Cuba prosseguiriam do mesmo jeito. "Ele não
fala mais, mas escreve."
Já Alba, 67, enfermeira aposentada, disse à France Presse
que esperava que Fidel fosse
presidente por toda a vida e que
"morreria com as botas nos
pés". "Fidel está saindo? Impossível", foi a reação de Dayron Clavellon, 20. "Sabíamos
que isso aconteceria, mas só
agora estamos realmente sentido o impacto", afirmou ele.
Com agências internacionais
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