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Israel diz que deixa Gaza até Obama assumir
Líder do Hamas manifesta apoio à retomada do diálogo como o rival Fatah, como pedem mediadores, 18 meses após ruptura
Em conferência no Kuwait, árabes racham sobre grupo radical palestino; sauditas prometem doar US$ 1 bilhão para reconstruir território
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)
Israel deu sinais ontem de
que pretende completar nas
próximas horas a retirada de
suas tropas da faixa de Gaza,
dois dias depois do cessar-fogo
que colocou fim a três semanas
de ofensiva contra o grupo extremista palestino Hamas. Segundo fontes do governo, contanto que a trégua seja mantida, a ideia é que não haja um só
soldado em Gaza até a posse de
Barack Obama.
O movimento de retirada dos
tanques e israelenses seguiu
durante todo o dia de ontem,
deixando para trás um cenário
de devastação que os moradores de Gaza só agora começam a
dimensionar.
Todos os prédios ligados ao
governo, incluindo o Parlamento, foram destruídos, junto
com cerca de 4.100 casas em todas as regiões de Gaza. Segundo
a ONU, mais de 50 mil pessoas
estão desabrigadas, e mais de
400 mil não têm acesso a água
corrente.
O total de mortos em Gaza na
ofensiva é estimado em 1.314
por israelenses e palestinos,
mas há uma enorme diferença
quanto ao número de baixas civis. Enquanto o Exército israelense diz ter matado 580 militantes do Hamas, o grupo afirmou ontem que sofreu 48 baixas. Do lado israelense, foram
13 mortos, sendo 10 soldados.
Escondidos em bunkers durante 22 dias, os extremistas
aproveitaram o fim dos bombardeios para cantar vitória
prometendo se rearmar para o
próximo confronto com Israel.
Em uma demonstração de força, o grupo colocou homens
uniformizados nas ruas para
patrulhá-las e organizar o trânsito já desde domingo.
Diálogo palestino
Ao mesmo tempo, porém, a
liderança acusava o golpe sofrido com a maciça ofensiva israelense, mostrando flexibilidades
antes inexistentes.
Em um discurso em que não
desviou da retórica triunfalista
esperada de um movimento islâmico armado, o premiê do
Hamas, Ismail Haniyeh, manifestou apoio à retomada do diálogo com o Fatah, grupo secular
expulso de Gaza em 2007, numa miniguerra civil que dividiu
os palestinos geograficamente
e ampliou o fosso ideológico.
Até o começo de dezembro,
quando abandonou as tentativas de reconciliação intermediadas pelo Egito, o Hamas parecia pouco disposto a colaborar com o Fatah, visto por parte
da liderança islâmica como
traidor, devido às relações que
mantém com Israel.
A união entre os palestinos
foi considerada um tema crucial do acordo de cessar-fogo
que o mesmo Egito negociou
nas últimas semanas, com amplo apoio internacional. O ditador egípcio, Hosni Mubarak,
insiste em trazer a Autoridade
Nacional Palestina, controlada
pelo Fatah, para um entendimento que inclua o monitoramento das fronteiras de seu
país com Gaza.
Em reunião da Liga Árabe no
Kuwait, Mubarak fez um discurso em tom crítico raramente visto em eventos desse tipo,
geralmente marcado pela retórica da união árabe. O egípcio,
que vê no Hamas uma extensão
da Irmandade Muçulmana, a
principal força de oposição a
sua ditadura militar, acusou diretamente os fundamentalistas
palestinos pela guerra em Gaza.
Para ele, a decisão do Hamas
de rejeitar a extensão da trégua
com Israel, em dezembro, foi
"um convite à agressão". Ele
disse que o Egito continuará
com os esforços pela reconciliação palestina, e que sem ela
será impossível levantar o embargo a Gaza, exigência do Hamas para manter o cessar-fogo.
"Faremos tudo o que pudermos, mas se as facções [extremistas] não responderem a
nossos esforços, então diremos
a elas que Deus ajuda aqueles
que ajudam a si mesmos", afirmou, expondo a mais a crescente divisão no Oriente Médio ao
criticar as "forças externas"
que influenciam o Hamas, uma
insinuação clara a Síria e Irã.
Presente ao encontro, o ditador da Síria, país que abriga a liderança do Hamas no exílio,
respondeu dizendo que o Hamas foi forçado a reagir à agressão israelense. Bashar Assad
acusou Israel de usar armas
proibidas e propôs qualificar o
país de "entidade terrorista".
Um dos padrinhos do acordo
de cessar-fogo, ao lado do Egito,
o governo francês acrescentou
pressão europeia para aproximar o Hamas de uma posição
moderada. Em entrevista ao
canal France 2, o presidente
Nicolas Sarkozy disse que a UE
suspenderá as sanções a Gaza
caso seja estabelecido um governo palestino de união.
A reunião culminou ainda
em promessas para reconstruir
o território, onde a ofensiva israelense deixou um prejuízo
estimado em US$ 1,9 bilhão. A
Arábia Saudita prometeu injetar US$ 1 bilhão em Gaza. Paralelamente, os países árabes estudam a criação de um fundo de
US$ 2 bilhões.
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