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SOB NOVA DIREÇÃO / PAGANDO A CONTA
Democrata herdará maior déficit fiscal em 6 décadas
Rombo é de US$ 1,2 tri, mas poderá dobrar com ajuda a bancos e plano de Obama
Analistas são céticos quanto à eficácia das propostas de campanha; a dívida pública em relação ao PIB é de 50,5%, 15 pontos mais que no Brasil
FERNANDO CANZIAN
EM WASHINGTON
Barack Obama assume hoje a
Casa Branca como o presidente
mais endividado da história recente dos EUA. Mesmo sem
computar nenhum centavo a
mais de um novo plano de estímulo econômico bilionário já
em gestação, o rombo orçamentário americano é o maior
desde a Segunda Guerra.
O déficit fiscal em 2009 atingirá estratosférico US$ 1,2 trilhão. Somado a um novo pacote
de gastos para reaquecer a economia, calculado em US$ 825
bilhões, e mais US$ 350 bilhões
da segunda parcela da ajuda aos
bancos (aprovada na semana
passada no Congresso), o déficit fiscal dos EUA poderá ultrapassar 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em breve.
Embora o novo pacote de estímulo seja a prioridade de
Obama, muitos analistas avaliam que, para obter o dinheiro,
por mais endividamento ou
corte de impostos, o plano vai
acabar tirando dólares de outras áreas da economia.
"É como se Obama enchesse
uma caneca com água de um lago, andasse para o outro lado e
despejasse a mesma água no
mesmo lago, só que em um local diferente de onde a tirou",
compara Grover Norquist, presidente da ONG América Pró-Reforma Tributária.
Durante a campanha eleitoral e depois de eleito, Obama
reiterou a promessa de eventualmente elevar os impostos
apenas dos americanos que ganham mais de US$ 250 mil (R$
580 mil) por ano, o que torna limitada sua capacidade de arrecadar recursos para financiar
seus planos.
Mesmo o pacote em análise
pela equipe de Obama é visto
com reservas. Ele destinaria
US$ 550 bilhões em recursos
para áreas como infraestrutura, seguro-desemprego e saúde
e US$ 275 bilhões em estímulos
fiscais diretos.
Cada indivíduo com renda
anual até US$ 250 mil poderá
receber US$ 500 por ano durante dois anos, o que equivale
apenas a menos de US$ 10 por
semana para cada pessoa.
Dívida pública
Além do déficit interno, a dívida pública norte-americana
também atingiu um nível recorde. Equivale hoje a 50,5% do
PIB. A Comissão de Orçamento
do Congresso calcula que ela
saltará a 54,2% do PIB até 2010.
Como comparação, no Brasil,
onde a dívida pública sempre
foi um problema, ela fechou o
ano passado correspondendo a
34,9% do PIB.
Na esteira desse aumento do
déficit e do endividamento, os
EUA vêm se tornando cada vez
mais dependentes de outros
países para se financiar. Em
2000, quando o país tinha superávit fiscal, os títulos do Tesouro norte-americano em
posse de estrangeiros equivaliam a apenas 31% do total. Hoje, 49,3% desses papéis estão
nas mãos de estrangeiros.
"O que aconteceria se esses
estrangeiros parassem de comprar esses títulos e, em vez disso, começassem a vendê-los?
Vender títulos denominados
em dólar é como vender dinheiro vivo, e isso pode colocar o
dólar em uma forte espiral de
queda", afirma Gene Epstein,
ex-economista chefe da Bolsa
de Valores de Nova York.
Epstein acrescenta que as
consequências podem ser muito negativas, uma vez que os
preços das ações nos EUA
(também denominados em dólares) podem cair ainda mais à
medida que investidores buscarem portas de saída para evitar perdas.
Hoje, muitos investidores
têm procurado justamente
comprar mais títulos do Tesouro dos EUA para se proteger.
Mas, no futuro e em uma eventual reação da economia, as
chances do cenário descrito por
Epstein ocorrer crescem, especialmente se o déficit e o endividamento continuarem crescendo sem parar.
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