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GUERRA DA ARGÉLIA
Militar será julgado por apologia da tortura, não pelo crime
General torturador francês vira réu
DA REUTERS
O general francês Paul Aussaresses, 83, que chocou o país ao
revelar -sem sinais de remorso- que comandou um "esquadrão da morte" e usou a tortura
como técnica de interrogatório na
guerra da independência da Argélia (1954-62), foi indiciado sob
acusação de "apologia de crimes
de guerra", segundo decisão do
promotor público de Paris Jean-Pierre Dinthilhac.
O promotor entendeu que Aussaresses não poderia ser diretamente investigado por crimes de
guerra ou por crimes contra a humanidade, uma vez que as violações na Argélia precedem a criação dessas figuras jurídicas - em
1968 e 1994, respectivamente.
"Os atos sobre os quais o general Aussaresses assumiu responsabilidade e que ocorreram durante o conflito argelino são claramente crimes de guerra", disse
Dinthilhac. Como tal, argumentou o promotor, as violações estão
cobertas pela lei de 31 de julho de
1968 que anistiou os crimes de
guerra contra a Argélia.
Segundo Dinthilhac, Aussaresses tampouco pode ser julgado
por "crimes contra a humanidade", uma vez que esse conceito só
passou a existir no direito francês
a partir da reforma de 1994.
A promotoria decidiu, porém,
acusar o general de "apologia de
atentados voluntários à vida e à
integridade da pessoa e de crimes
de guerra", delito previsto na legislação de imprensa, que data de
1951 e, portanto, é anterior à lei de
anistia. A sentença máxima é quatro anos de prisão, embora no
passado as punições para esse delito tenham sido simbólicas.
A acusação refere-se à entrevista que Aussaresses deu ao jornal
"Le Monde" no último dia 3, em
que diz não se arrepender dos crimes relatados no livro "Serviços
Especiais Argélia 1955-1957".
No livro, mais do que fazer uma
confissão, Aussaresses tenta justificar as táticas usadas pelo Exército francês para reprimir o movimento independentista na ex-colônia, entre elas torturas e execuções. "Havia ameaças de bomba
por todos os lados. Eu precisava
de informação para ganhar tempo e não podia hesitar. A tortura é
muito eficiente. A maioria das
pessoas não aguenta e fala. Depois, na maioria dos casos, acabávamos com eles."
A cúpula do Exército francês se
reunirá na terça-feira para decidir
se o general da reserva deve ser
exonerado, o que reduziria sua
pensão e outros benefícios.
Com "Le Monde" e "The Independent"
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