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UE evita contágio do "não" irlandês
França e Alemanha se esforçam para que demais países do bloco continuem a ratificar Tratado de Lisboa
Merkel viajou à Polônia;
Sarkozy foi a Praga e verá
Brown em Paris; o plano é
não tomar resultado de referendo como fatalidade
DA REDAÇÃO
Os governos da União Européia desencadearam ontem um
mutirão diplomático para evitar o "efeito de contágio" da rejeição pela Irlanda, em referendo na quinta-feira, do Tratado
de Lisboa, conjunto de normas
que deveria reger a partir de janeiro o bloco de 27 países.
O plano, encabeçado por
França e Alemanha, consiste
em fazer com que os oito países
cujos Parlamentos ainda não
votaram o tratado o façam rapidamente, para em seguida resolver o problema irlandês. A
Irlanda é o único país da UE
que exige a ratificação pelo voto
popular. Nos demais basta a
aprovação do Parlamento, como já ocorreu em 18 países
-em alguns deles, os presidentes ainda não sancionaram o
texto-, e ainda não foi o caso de
Bélgica, Holanda, República
Tcheca, Itália, Espanha, Chipre, Suécia e Reino Unido.
A chanceler alemã, Angela
Merkel, fez ontem uma rápida
viagem à Polônia e afirmou, ao
lado do primeiro-ministro Donald Tusk, estar "absolutamente de acordo" com o roteiro de
ratificação pelos demais Estados-membros. Os dois chefes
de governo também concordaram ser importante não isolar a
Irlanda e encontrar em companhia dela uma saída à crise.
Horas depois, o presidente
francês, Nicolas Sarkozy, viajou
para Praga. O presidente tcheco, Vaclav Klaus, qualificara na
sexta-feira o referendo irlandês
como "uma vitória da razão" e
afirmara que o Tratado de Lisboa estava "morto". Bem mais
moderado, o primeiro-ministro Mirek Topolanek disse a
Sarkozy que o processo de ratificação estava emperrado, à espera da decisão da Corte Constitucional sobre a compatibilidade do tratado com a Constituição tcheca.
Estavam também em Praga
os primeiros-ministros de Polônia, Hungria e Eslováquia. Ao
lado dos tchecos, eles se interessam pelo processo de adesão
à UE da Croácia e da Ucrânia. O
presidente francês ponderou
que o bloco não será ampliado
se o Tratado de Lisboa não estiver em vigor.
Sarkozy também deverá almoçar nesta semana, em Paris,
com o premiê britânico, Gordon Brown, submetido à pressão interna dos "eurocéticos".
Cúpula na quinta-feira
Os chefes de governo e de Estado do bloco têm um encontro
de cúpula marcado para quinta
e sexta, em Bruxelas. Numa espécie de prévia, os ministros
das Relações Exteriores se reuniram ontem em Luxemburgo.
A idéia é não colocar a Irlanda
contra a parede, o que apenas
ampliaria dentro daquele país o
partido do "não", que obteve
53,6% no referendo de quinta.
O chefe da diplomacia irlandesa, Micheal Martin, disse ser
ainda cedo para afirmar se o
seu governo poderia promover
um novo referendo. Mas disse
que "não queremos ser deixados para trás", alusão à possibilidade de isolamento nas instituições européias.
Segundo o "Financial Times", um esboço de acordo
vem sendo costurado para que
o eleitorado irlandês obtenha, a
partir de emendas ao tratado,
garantias para suas preocupações nas áreas tributária, militar e de política familiar.
Seria aplicar a mesma receita
usada em 1992 com a Dinamarca, que rejeitou em referendo o
Tratado de Maastricht, mas
passou a apoiá-lo depois de devidamente modificado.
O "Le Monde" acredita, no
entanto, que um novo referendo irlandês é por ora inimaginável. Os trabalhistas irlandeses, que trabalharam pelo
"sim", avisaram que mudariam
de campo caso haja nova votação. Um dos líderes do "não",
Declan Ganley, diz rejeitar pequenas mudanças. "Queremos
uma renegociação total desse
tratado antidemocrático."
Com agências internacionais
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